Electric Funeral: Sunn O))) - Parte 2

quinta-feira, 9 de maio de 2013


Muito bem amigos, como previamente profetizado na primeira parte do post, farei aqui um breve review cronológico dos albuns de studio do Sunn O))). A finalidade principal destes é situar o interlocutor na história do progresso técnico e estético da banda, assim como despertar a curiosidade de não-iniciados ao Drone Metal. Como um adendo, peço desculpas pelo atraso do post, estive ocupado com assuntos acadêmicos, assim como uma futura homenagem ao falecido Jeff Hanneman. Sem mais delongas, vamos aos albuns:





ØØ Void (2000):

Panoramas tonais se desenrolam em um ritmo incrivelmente lento e meditativo, algumas vozes sussuram em coro e elementos diversos podem ser ouvidos ao fundo como o estalar de folhas secas em uma floresta noturna ou o grasnar de corvos na faixa "Richard", porém essência da estética encontra-se na guitarra lamuriante, sempre afinada em tons baixos e submetida a inúmeros efeitos e flanger / feedback que dá a suas notas o caráter contínuo e íntegro de um mantra meditativo. Enquanto a percussão é quase ausente (salve um sample lo-fi em "N N O)))" ), o que da ritmo (no sentido formal da palavra) ás composiçoes é o baixo tocado em palhetadas violentas e abruptas, padrão que virá a se repetir na maioria das composições futuras. O nome do álbum, toscamente traduzido como Nulo-Nulo-Vazio, nos da uma idéia precisa do que a banda procura comunicar, niilismo absoluto em forma de ondas sonoras, um vislumbre do vazio que sempre nos cercou, mesmo que optemos por ignora-lo. Talvez a coisa que mais remeta ao niilismo na obra é a constância das músicas, que terminam sem cerimonias, como a vida em si. Destaque especial para a faixa "Rabbit's Revenge", que trata-se de um cover de Melvin, irreconhecivelmente distorcido e recomposto.


 
Flight of the Behemoth (2002):

Como já sugere a abertura da primeira faixa ("Mocking Solemnity"), vemos um Sunn O))) que começa a experimentar com elementos da música eletrônica (pessoalmente odeio este rótulo, uma guitarra é tão eletrônica quanto um synth, mas deixemos assim por motivos didáticos), juntamente com o músico nipônico Merzbow que contribuiu com a mixagem das faixas 3 e 4 ("O))) Bow 1" e "O))) Bow 2") e com os beats em "FWTBT". Abre-se uma porta para uma nova era de experimentações no Drone tradicional da banda, o vácuo agora não parece tao vazio. Destaque para a faixa previamente mencionada, "FWTBT" (Faixa 5), aonde não está presente apenas uma bateria eletronicamente gerada por Merzbow, como diversas vocalizações e efeitos, as vezes imitando barulhos de respiração de tom quasi-aquático. Vale ressaltar que "FWTBT" corresponde á sigla para "For Whom The Bells Toll", sim a música do Metallica mesmo... a banda tentou manter a estrutura dos riffs semelhante á original em uma releitura criativa, dando continuidade a sua história de covers irreconhecivelmente distorcidos.




 White1 (2003):
Vemos aqui os primeiros frutos das experimentações do grupo em Flight of the Behemoth, Sunn O))) aparece aqui infinitamente mais maduro que três anos atraz em seu ode ao vazio, seu primeiro album conceitual (seguido por "White2" e "Black One") traz influências da cultura pagã e incorpora elementos que trazem materialidade para o caos sônico da banda, que toma a forma de florestas e grutas esquecidas, ve-se uma ode á natureza semelhante áquela presente nas primeiras fases do Black Metal com Burzum. Com Julian Cope recitando uma poesia druidica na faixa 1 ("My Wall") e Runhild Gammelsæter cantando uma música tradicional norueguesa ("Håvard Hedde") seguida por percussões geradas eletronicamente sob um riff digno do doom metal na faixa 2 ("The Gates of Ballard") fazem deste o album mais diverso da banda até então. Não posso deixar de mencionar também a faixa 3 ("A Shaving of the Horn that Speared You") que traz um drone incrivelmente limpo e meditativo. Com este album Sunn O))) começa e descobrir sua identidade e arrebatar ouvintes fora do restrito circulo do Drone metal.
      
White2 (2004):


O sucessor de "White1" em conceito, porém não em estética: como a arte da capa ja indica, temos em nossas mãos uma obra que busca, como seu predecessor, remeter a tempos de outrora aonde o vinculo fumano com o mundo natural (supondo aqui uma dicotomia natureza-cultura, novamente para fins didáticos) era menos extenuado e guiado por padrões de vivência tribal. Porém sob esta obra paira o ar estrangeiro (ao olharmos a capa nos deparamos com camponeses com cabeças distorcidas ao praticar suas atividades laborais em meio á uma vila campestre), o desconhecido está sempre presente e vem também contextualizado por uma experimentaçao mais profunda do que aquela feita pela banda até agora. Uma faixa que bem representa esta idéia é "Bassaliens" (faixa 2), aonde sons graves e agudos, sempre em extremos e em padrões não-lineares furam a densa camada criada pelo drone ao fundo, o desconforto que o desconhecido nos causa é aqui representado pelo som propositalmente estourado e inconstante. Já em "DECAY2 - Nihil's Maw" (faixa3), temos um panorama mais suave, a tensão que a faixa teria isoladamente é em parte neutralizada se escutada na ordem cronológica, logo após "Bassaliens", sons contínuos e lamuriantes formam uma névoa fina que sobe do solo e serpenteia entorno das formas concretas, aldeões cantam em coro com suas vozes elétricas o chegar da noite...




Black One (2005)
Um álbum de peso. A capa não indica nada, apenas uma floresta negra, densa como o som que ela guarda. Quebrando a sequência de "White1" e "White2", "Black One" é único ("One" e nao "1", dá sentido de uniquidade á obra, traduzido toscamente pra "O Negro", em oposição á "Branco 1" e "Branco 2"). O álbum em si possui o maior número de faixas dentre todos os da banda, 7 ao todo, esta adota um formato mais comercial, músicas de 6 minutos de duração como a faixa 2 ("It Took the Night to Believe"), que aliás se mostrou a mais acessível em sua obra, com estrutura identificável (riff-bridge-chorus) e ritmo constante, mas ainda sim mantendo sua personalidade carregada. "Black One" é a chegada da noite na história de Sunn O))), arrisco dizer que está dentre os albuns mais pesados já lançados no cenário Doom/Drone , ao lado de Dopethrone e Satan Worshipping Doom (que serão abordados em reviews futuros, espero que mais detalhados do que este). Sunn O))) assume neste álbum uma identidade de orquestra: cada música possui uma composição diferente, cada uma com seus convidados especiais e estética únicas, o que talvez torne este o album menos "holístico" do grupo. Talvez em um review futuro seja creditado mais tempo para abordar este album tão denso, por hora fica o breve registro cronológico do álbum que talvez seja o mais importante da história da banda. Para quem tiver a curiosidade despertada, postei um video no youtube com o álbum na integra na primeira parte do post. Como curiosidade (que também nos faz refletir sobre os métodos de criaçao do album), os vocais da faixa 7 ("Báthory Erzsébet") foram gravados por Malefic, que sofre de claustrofobia, as gravações ocorreram propositalmente dentro de um caixão lacrado.

Monoliths & Dimensions (2009)

Após dois anos de trabalho, quatro de espera para os fãs ansiosos pela continuação de "Black One" (um "Black Two" chegou a ser cogitado), Sunn O))) nos surpreende mais uma vez com uma obra extremamente refinada. A banda conta com Attila Csihar e Dylan Carlson, do Earth como convidados, fora um conjunto completo de cordas, um piano, um trio de baixos, dois trombones, dois duos de harpas / flautas e um coro diversificado. O fato de existirem mais vozes cantando a canção de Sunn O))) não a fez menos sombria e meditativo, muito pelo contrário, como alude o titulo do album, o estado de som que a banda alcançou é monolitico e inexorável, um sólido buraco negro de dimensoes incalculáveis. Na faixa 2 ("Big Church [Megszentségteleníthetetlenségeskedéseitekért]") podemos ver uma grande mudança na forma em que Sunn O))) emprega a voz como elemento em suas composições, verdadeiros coros multitonais que dão uma intenção medievo-renascentista á estética, e por consequência, faz deste um álbum bastante acessível. O que sinto ao ouvi-lo é que o caráter erudito trouxe uma forma menos abstrata, já mais envolta pelo concenso do imaginário popular, para a expressão de uma estética cujos elementos datam de muito antes da criação da banda, e que já encontravam-se condensados em ØØ Void. Entretanto, conforme vamos adentrando o abismo, conseguimos nele percrustrar uma infinidade de dimensões e níveis complexamente diversos. Sunn O))) consegue, com presença, aludir á ausência, e este é o maior de seus feitos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 






































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