Review de show: Possessed + Postmortem (08/08/13 - Beco 203 - Porto Alegre/RS)

sexta-feira, 16 de agosto de 2013


Que Porto Alegre já virou parada obrigatória para grandes nomes da cena mundial não é novidade para ninguém há muito tempo. O ano tem sido ótimo no que diz respeito ao número de shows. E é impossível não destacar a oportunidade única que tivemos no último dia 8 de agosto: o Possessed, banda precurssora do Death Metal, chegou em terras gaúchas para uma noite de muita brutalidade. 

O grupo de Jeff Becerra prometeu apresentar seu debut, o clássico absoluto "Seven Churches" (de 1985), na íntegra. O show foi realizado no Beco 203, que ultimamente tem recebido várias bandas de Metal em seu recinto. O evento foi realizado pela Mitnel Produções em parceria com a Heaven And Hell Rock Store. 

Não deixe de conferir a galeria de imagens no final do post 


Postmortem
 

A abertura da noite ficou por conta dos pelotenses da Postmortem, um dos nomes mais fortes do Death Metal gaúcho nos últimos anos. Abriram com "Chains Of Hipocrisy" e "Beneath The Sands Of Time", conquistando de cara o público ávido por peso que ficou um pouco impaciente com os atrasos. Inicialmente, foi dito que o Possessed subiria no palco às 22h, mas esse foi o horário em que a Postmortem começou a tocar. 

Na sequência mandaram as 3 faixas de seu trabalho mais recente, o EP "Atra Mors" (confira a matéria que fizemos sobre o EP clicando aqui): "Above All Lies", "Possession Of Spirit And Flesh" e "'Till Your Last Breath". Não é a primeira vez que tenho a oportunidade de ver a Postmortem ao vivo, mas cada vez que isso acontece a banda está ainda melhor. O baterista Douglas Veiga soa ainda mais pesado e técnico ao vivo executando as faixas da "Atra Mors". Na linha de frente, Bruno Añaña e Mou Machado mandando ver nos complexos riffs da banda e Juliano Pacheco com suas linhas precisas de baixo. Vale lembrar que Bruno também é vocalista da Postmortem. A banda funciona muito bem ao vivo e abrir para uma lenda como o Possessed é um mérito conquistado com sua música de qualidade. 

Em meio a uma ou duas pessoas que pediam pelo Possessed, Bruno anuncia a última música da Postmortem falando que ele também estava ansioso para ver a banda. "Of Mars And Wars" fechou a curta, porém brutalmente extrema, apresentação da Postmortem. Particularmente, acredito que a banda merecia tocar mais tempo, foram apenas 6 faixas tocadas, ainda mais levando em conta o atraso que sucedeu-se até o Possessed subir no palco. 




Possessed

Deveria ser por volta de 00h30min quando os integrantes do Possessed finalmente apareceram e começaram a preparar-se para a apresentação. Jeff Becerra foi o último a comparecer perante o público com uma ajuda de seguranças da casa, uma vez que ele usa uma cadeira de rodas. Não demorou muito para o massacre sonoro ter início com "The Heretic", clássico do álbum "Beyond The Gates", de 1986. Já de cara formou-se um dos circle pits mais violentos que a capital gaúcha já viu, clima que manteu-se durante toda a apresentação com os fãs completamente enlouquecidos.


Apesar de estar em uma cadeira de rodas, Jeff ainda tem a presença de um grande frontman. Manteve o público na palma da sua mão durante todo o show e fez questão de manter um contato próximo com os que encontravam-se na primeira fileira. O guitarrista Daniel Gonzalez embalou esse clima insano que instaurou-se no Beco com seus solos cheios de alavancadas. Destaque especial também para o baterista Emilio Marquez (Asesino, ex-Brujeria): aos 39 anos parece que a idade não afeta ele, mantendo o pique do início ao fim da apresentação com suas viradas rápidas e uma pegada muito forte. 

Ainda no início da apresentação, tivemos "The Eyes of Horror" (do EP homônimo de 1987) e "Beyond the Gates". Como foi dito anteriormente, foi anunciado que a banda tocaria o álbum "Seven Churches" inteiro, o que teve início com "Pentagram", definitivamente um dos maiores clássicos da história do Death Metal. Já é algo comum hoje em dia bandas que tocam seus álbuns clássicos na íntegra e muitas delas optam por tocar do início ao fim na exata sequência do álbum. O Possessed não fez isso, optando por distribuir as faixas pelo set. O que é muito melhor, uma vez que o show não torna-se previsível. 


Ainda de "Seven Churches" tivemos "Burning in Hell", "Satan's Curse" e "Evil Warriors". O segundo disco de estúdio do grupo voltou a ser representado através de "Seance". A platéia continuava em um êxtase continuo em meio ao circle pit. Muitas pessoas também subiram no palco para dar um stage diving e sempre encaravam a ira de algum segurança, apesar de ser evidente que a banda não estavam nem aí para isso e até se divertiram bastante com as pessoas que fizeram isso. E pra quem ainda tem aquela visão ridícula e machista que Death Metal é coisa de sujeito barbudo e fedorento, fique sabendo que haviam lindas garotas em meio ao caos e elas desceram a porrada em muito marmanjo. 

Em certo ponto da apresentação, uma pausa de menos de um minuto para todos respirarem que parece ter demorado uma eternidade quando começou a soar uma intro bem familiar a todos os presentes. Era "The Exorcist" chegando para quebrar mais alguns pescoços e gerar um caos ainda maior dentro do Beco. Na reta final do show ainda tivemos a faixa título do álbum de 1985, "Swing of the Axe" e "Confessions", ambas do EP "The Eyes of Horror". O encerramento era mais do que óbvio: "Death Metal"! Todos os presentes cantaram o hino junto de Jeff, um momento épico! Detalhe: enquanto isso, rolava uma festa de gosto duvidoso no andar de baixo do Beco. Tenho plena certeza que a festa deve ter parado durante a execução de "Death Metal" quando a pista transformou-se em um verdadeiro campo de guerra.  


Depois do show, Jeff ainda permaneceu um pouco na frente do local e recebeu a todos com muita simpatia. É isso mesmo, era só chegar no lado do estacionamento da Avenida Independência que você poderia tirar fotos, ganhar um autógrafo e bater um papo com Jeff Becerra. Totalmente o contrário do estrelismo de um outro vocalista de Death Metal que esteve aqui em Porto Alegre há poucos meses, que deixou a casa de shows literalmente ignorando seus fãs. 




Considerações finais

Acreditem, não foi nada fácil escrever esse review e por isso demorou alguns dias para ser publicado. Quem estava lá está ciente dos problemas que aconteceram. E antes que alguém fique acusando a total omissão do acontecimento, deixe-me explicar algo: qualquer veículo com um mínimo de profissionalismo tem um compromisso com a verdade. Sendo assim, não é justo de nossa parte sair acusando esta ou aquela pessoa sem uma declaração oficial de todos os envolvidos. As coisas vão um pouco além do que foi dito no palco, nada é tão simples. 

Depois de muitos anos envolvido no underground, posso afirmar com total certeza que conheço os dois lados: público e produtoras de eventos. O All That Metal sempre vai apoiar quem faz algo pela cena, seja organizando shows, pessoas que compram ingressos e comparecem nos eventos, quem compra os produtos das bandas, enfim, os fãs que mantém o underground vivo. É muito fácil ficar reclamando e cruzar os braços na hora do aperto, deixando de lado o fato de que estamos todos no mesmo barco. Como diria um amigo meu, a cena não é só ficar em casa baixando MP3. 

Não podemos também deixar passar em branco certas atitudes revoltadas que algumas pessoas tiveram. Tomo como exemplo a cidadã que decidiu invadir o palco para quebrar o equipamento que foi alugado para a realização do show. Nada justifica tamanha imprudência! Em contrapartida, a grande maioria do público era dotado de bom senso. Como é tradicional no Beco, não havia uma barreira entre o palco e a platéia, o que muitas vezes dificulta o trabalho de quem está fotografando a apresentação. Mesmo assim, o público foi muito respeitoso cedendo espaço para a realização do trabalho. Em suma: qualquer um tem o direito de reclamar, e felizmente muitos ali lembravam que havia profissionais que estavam trabalhando, sendo uma ínfima minoria querendo incitar atitudes deploráveis. 

No final das contas, o saldo foi muito positivo para o público, fazendo valer a pena os atrasos com o show memorável do Possessed. Quem perdeu tem mais é que se arrepender de não ter assistido uma das maiores lendas do Metal em Porto Alegre. Na minha singela opinião, um dos melhores shows de 2013 até o presente momento.

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