Texto: Tiago Alano
Fotos: Carlo Porrone (fotos do show e foto com bandeira do Rio Grande do Sul), Martha Buzin (capa da matéria e minha foto com Fernando e Mike), Tiago Alano (aeroporto e fotos com bebidas etílicas)
Certamente estou dando início a um dos relatos mais difíceis que eu poderia fazer para esse blog. Tentar descrever todos os acontecimentos do dia 15 de dezembro vai ser bem difícil. Digo isso por um simples motivo: toda pessoa apaixonada por música (especialmente fãs de Metal) tem o desejo de um dia conhecer seus ídolos. E se essas pessoas cujo trabalho você tanto admira também demonstrarem interesse em conhecer e conversar com você, fã da banda, as coisas tornam-se ainda mais melhores. Foi exatamente isso que aconteceu nesse dia que vou relatar agora nesse post.
Em outubro foi anunciado o show do Moonspell em Estância Velha. Seria a melhor oportunidade que já tive de finalmente assistir a uma das minhas bandas favoritas, depois de tantos anos de espera. Até aí tudo bem, já havia a empolgação inicial. Então surge um concurso para o Meet & Greet com a banda, do qual eu decidi participar após muita insistência da minha namorada. Inesperadamente, fui um dos ganhadores. Depois aparece o concurso para um churrasco com a banda. Mais uma vez, fui o vencedor. Estava garantido um dia inesquecível!
É óbvio que um pouco de nervosismo começa a aparecer quando a data aproxima-se. Você fica pensando no que vai falar com os caras, preocupa-se em não parecer um fã chato, essas coisas. Mas quando enfim chegou o dia do churrasco, que deveria ter sido realizado um dia antes do show, eu já estava mais tranquilo, mas ainda sem ideia de como poderia ser. O churrasco acabou sendo adiado para o dia seguinte, devido aos atrasos no vôo da banda do Chile para São Paulo, e então para Porto Alegre. Mas, mesmo assim, decidimos ir receber a banda no aeroporto. E foi aí que começou a jornada mesmo.
Naquele mesmo dia eu fiz a entrevista com o James McIlroy, guitarrista do Cradle Of Filth. Ao saber que eu encontraria o pessoal do Moonspell, James pediu para enviar uma mensagem aos seus amigos: se não gostariam de trocar o sol da América do Sul por toda a neve que o COF vem enfrentando na turnê européia. Quando passei a mensagem, tudo que Fernando Ribeiro disse é que o Moonspell já estava em outro estágio, que adiantou a turnê européia justamente por isso. A conversa no aeroporto foi rápida, enquanto a banda fumava um cigarro de forma desesperada. Sei bem como é para um fumante ficar horas e horas em um aeroporto.
Enfim havia chegado o dia 15 e o churrasco estava marcado para acontecer em São Leopoldo. Pedro Paixão, Aires Pereira e Ricardo Amorim foram os primeiros a chegar. Pedro fez questão de sentar entre os poucos fãs sortudos que estavam lá, batendo um papo bem amistoso com todos. Inicialmente, alguma conversa típica para quebrar o gelo, falando das diferenças entre Brasil e Portugal, além de algumas curiosidades a respeito do Moonspell. Inclusive, Pedro confirmou que a música "New Tears Eve" (do álbum "Omega White") é uma homenagem ao falecido Peter Steele, que foi também um grande amigo da banda. Ele também admitiu que estava decepcionado com o fato de que "Omega White" não ganhou seu devido reconhecimento através da gravadora, afirmando que gostou muito do trabalho.
Fernando Ribeiro e Mike Gaspar chegaram logo depois e já foram puxando conversa conosco. Como ambos estavam próximos de mim também, acabaram sendo os dois integrantes com quem mais pude interagir. E eu vou dizer uma coisa para vocês: já tive ótimas oportunidades de conversar com diversos músicos cujo trabalho eu admiro, mas nada pode ser comparado a isso. Os caras são muito atenciosos, estavam ali porquê queriam conhecer mesmo os fãs. Para a Indira Renuncio, outra contemplada com o churrasco, eles mostraram até mesmo fotos dos filhos na praia, para vocês terem uma ideia!
Enquanto o Fernando Ribeiro tomava uma caipirinha, nós ficamos conversando diversos assuntos interessantes. Primeiro ele me contou que acabou de tornar-se pai há oito meses atrás e está morando em Sintra, mostrando também algumas fotos do lugar. Isso nos levou a uma conversa muito agradável sobre literatura, pois Lord Byron considerava esse local de Portugal como o vilarejo mais lindo que conheceu. Sendo assim, eu e ele começamos um papo sobre autores que ambos gostamos, inclusive autores brasileiros. Recomendei a ele procurar obras de Álvares de Azevedo, que ele ainda não conhecia.
Enquanto o Fernando Ribeiro tomava uma caipirinha, nós ficamos conversando diversos assuntos interessantes. Primeiro ele me contou que acabou de tornar-se pai há oito meses atrás e está morando em Sintra, mostrando também algumas fotos do lugar. Isso nos levou a uma conversa muito agradável sobre literatura, pois Lord Byron considerava esse local de Portugal como o vilarejo mais lindo que conheceu. Sendo assim, eu e ele começamos um papo sobre autores que ambos gostamos, inclusive autores brasileiros. Recomendei a ele procurar obras de Álvares de Azevedo, que ele ainda não conhecia.
Entre uma parada entre cervejas e caipirinhas, costumávamos sair para fumar um cigarro. Detalhe: o pessoal da banda e da equipe fumam apenas cigarro de palha, o tradicional palheiro ou lambido aqui no Rio Grande do Sul. Perguntei o motivo e eles falaram que é por causa do preço absurdo do cigarro na Europa, e também porque acabaram acostumando-se a fumar apenas isso agora, não suportando mais os cigarros industrializados. Numa dessas saídas para fumar também começamos a falar sobre cinema, Fernando Ribeiro também é fã de Dario Argento e está envolvido com um grande festival de cinema em Portugal.
Algo que vai deixar muitos brasileiros orgulhosos é o fato de que conversamos bastante sobre o metal nacional. Fernando Ribeiro me contou que ainda tem em casa sua coleção de discos das bandas da cena mineira dos anos 80. Pois é, o cara é um fã das antigas de Sepultura, Sarcófago, Chakal, Mutilator e várias bandas da época. Inclusive, ele esteve no primeiro show que o Sepultura fez em Portugal, quando a banda estava abrindo para o Sodom, em 1989. Ele e Mike ainda comentaram que o Sepultura, após a saída de Max Cavalera, teve uma enorme queda de popularidade em Portugal.
A conversa foi muito longa, eu nem tenho como relatar tudo aqui. Dá pra ver que a banda realmente tem interesse em conhecer os fãs, tocar ao vivo, esse é o grande prazer deles. Eles falaram que ficaram para trás os dias de fazer festa e beber muito em turnês, o foco hoje é estar no palco fazendo o que mais gostam na vida. Mais legal ainda foi saber que se Fernando Ribeiro não fosse vocalista do Moonspell, ele estaria trabalhando exatamente com a mesma coisa que eu hoje em dia, ou seja, como fotógrafo de moda. Foi assim que surgiu a parte da conversa em que eles falaram que o clipe de "White Skies" possui várias Suicide Girls portuguesas, pois a banda gostaria de mostrar que elas não são prostitutas.
Ao final do churrasco, acompanhamos a banda até o hotel, onde eles autografaram meu "Under Satanae", uma relíquia que vai ser transformada em quadro ainda. Aliás, esse autógrafo é algo importante que vocês devem lembrar mais adiante no meu texto. Próximo passo: rumo a Arena Palco 7, em Estância Velha. esperar a hora do show!
O local é realmente bem agradável, além de possuir uma acústica padrão se comparada a outros locais de Porto Alegre e região. Infelizmente, alguns imprevistos na montagem do palco e estrutura toda aconteceram, fazendo com que o show atrasasse, bem como a passagem de som e o Meet & Greet que foi adiado para após o show. Interessante ressaltar também que a banda trouxe uma produção de palco excelente, com três backdrops belíssimos ao fundo do palco, algo incomum em turnês que vem de longe.
Expectativa geral para o começo do show, todos ansiosos para ver a banda em ação. Eis que começa a intro de "Axis Mundi", do mais recente trabalho, "Alpha Noir". Um por um, os integrantes da banda sobem ao palco, sendo que Fernando Ribeiro estava usando um elmo de gladiador. Já mandam "Alpha Noir" na sequência, começando o show de forma absurdamente espetacular. Ao final da segunda canção, Fernando Ribeiro saúda a todos os presentes e anuncia uma das minhas músicas favoritas do álbum "Memorial": "Finisterra"!
Um detalhe supreendente foi a excelente reação do público. Quem estava lá era fã mesmo da banda e cantava do início ao fim todas as músicas, até mesmo as do novo álbum. Prova de que "Alpha Noir" conseguiu agradar mesmo os fãs da banda. "Night Eternal" veio na sequência e manteve o clima pesado do início do show, mais uma vez com a platéia agitando bastante. Mas o que veio logo a seguir foi um dos momentos mais épicos da história do metal gaúcho: "Opium", "Awake" e "Mephisto". Isso mesmo, uma trinca de clássicos do fabuloso "Irreligious". A esse momento eu já estava sem voz, mas ainda assim, querendo muito mais.
Mais uma do "Night Eternal" veio na sequência, "Scorpion Flower", também muito aclamada pelos presentes. A única canção de "Darkness And Hope" que estava no set list foi a seguinte, a excelente "Nocturna". Já o álbum "The Antidote" foi representado por um dos momentos mais sensacionais do show, com a música "Everything Invaded". É uma das minhas favoritas e eu realmente estava preocupado se tocariam ela ou não no show, uma vez que ela ficou de fora de alguns shows na América do Sul. Impossível não comentar também o fenomenal solo de guitarra de Ricardo Amorim nessa música, sempre tive vontade de escutar isso ao vivo desde que conheci a música.
Pausa para uma rápida vinheta e logo a banda toca mais uma do novo álbum, "Lickanthrope". E apesar de ser uma ótima canção, ela serviu de aquecimento para o que ainda estava por vir. A banda mal havia anunciado a próxima canção, "Em Nome Do Medo", e a platéia já havia entrado em chamas! Eu fiquei realmente impressionado com isso, todos foram a loucura e cantaram a música do início ao fim. Não tenho como afirmar se isso aconteceu somente aqui no Brasil, mas certamente essa música do novo álbum vai ser lembrada como um grande clássico da banda no futuro.
A essa altura do show, muitos imaginam que os fãs já estariam satisfeitos. Mas, por incrível que pareça, o melhor ainda estava por vir. A banda começa a tocar uma das músicas mais esperadas da noite, o clássico "Vampiria". E eu que já estava sem voz desde "Opium" consegui juntar um pouco mais de fôlego para o trecho de "start to shine!". Épico. Logo a seguir, a grande surpresa da noite: "Ataegina"! Definitivamente, eu não esperava por esse agradável imprevisto.
Depois de tantos momentos incríveis desse show, fica até difícil escolher qual foi o mais marcante. Mas certamente a execução de "Alma Mater" foi o ponto alto, tamanha a sincronia entre público e banda. Pra ser sincero, a única vez que eu vi uma platéia cantando com tamanha dedicação e vontade uma música, foi no show do Iron Maiden, em 2008. Mas isso chegou bem próximo. Obviamente levem em conta a grande diferença das duas platéias.
A banda sai do palco e todos ficando esperando pelo bis. Não bastava o fato da banda já ter tocado três músicas de "Wolfheart" antes do bis, ainda decidem voltar com "Wolfshade (A Werewolf Masquerade)". Bem, pra quem é fã do primeiro álbum da banda (ou seja, todos os presentes), deu pra sair incrivelmente satisfeito desse show. "Grandstand", outro do novo álbum, veio logo na sequência e mais uma vez teve boa resposta do público.
Infelizmente, o final havia chegado quando Fernando convida a todos para juntarem-se a banda na "Full Moon Madness". Certamente outra grande música que todos estavam aguardando. Um final emocionante e digno para um show memorável. A banda se despede do público e enfim deixa o palco enquanto é ovacionada pela platéia.
Após o show, fui direto para o camarim para a realização do Meet & Greet. Eu disse para vocês lembrarem do fato de que já haviam autografado meu "Under Satanae", certo? Ou seja, o que eu poderia levar para o M&G? Há algumas semanas atrás eu já havia decidido o que fazer, algo que estava combinado com minha namorada. Na fila do M&G eu apenas disse que tinha uma surpresa para a banda. Ao entrar na sala, tiro do bolso uma calcinha branca de minha namorada e peço para Fernando Ribeiro autografar. A cena foi hilária! Ele até tentou desenhar um logo do Moonspell nela. Na foto abaixo, vocês podem conferir a reação cômica dele.
Ainda pude me despedir da banda e agradecer pelo ótimo show antes de embarcarem na van. Mas a noite continuava e ainda poderíamos ver A Sorrowful Dream, Estação das Brumas e os DJ's Drug (Gothik Night) e Deivid 69 (Vampire Cabaret) que, como sempre, garantiram a trilha sonora ideal para a noite.
Começando pela A Sorrowful Dream, que é uma banda que já tem muita estrada e uma boa base de fãs. O próprio número de pessoas que permaneceram para assistir a banda foi algo que surpreendeu, considerando que eles estavam tocando depois do show principal. A Sorrowful Dream cumpriu bem o seu papel e mostrou a diferença que faz toda a experiência adquirida em anos. Apesar disso, a qualidade do som não ajudou muito a banda, ainda mais considerando que suas músicas possuem vários detalhes importantes em sua sonoridade.
Estação das Brumas veio depois, infelizmente já prejudicada pelo atrasado e o público bem menor. Mas dentro do que estava ao alcance da banda, eles conseguiram mandar muito bem. O repertório incluiu músicas próprias e covers de Marilyn Manson. Impossível não destacar a ótima performance do vocalista Raphael Oliveda, ótimo intérprete e frontman. Infelizmente a banda tocou pouco tempo, mas quem assistiu certamente vai querer escutar mais a banda.
Enfim, essa foi a odisséia que eu atravessei ao longo de um dia ao lado de uma das minhas bandas favoritas. Eu não esperava que o texto ficasse tão grande, mas espero que vocês gostem das curiosidades que eu compartilhei por aqui. Certamente, um dos melhores shows que já vi até hoje, fora a experiência vivida em conhecer a banda pessoalmente. Gostaria de agradecer também a produtora do evento por essa oportunidade. Estaremos aguardando os próximos shows!
Dêem uma conferida também nas fotos do show realizadas por Carlo Porrone:
"Épico" foi pouco.
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