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Há alguns atrás, era comum as pessoas considerarem vocalistas de Metal extremo como amadores que só sabiam gritar. Mas os tempos mudaram e até mesmo fora do gênero os profissionais de canto passaram a reconhecer as técnicas de vocal gutural e drive. Melissa Cross é uma das maiores referências do ramo atuando como professora de canto, além de já ter lançado dois DVD's instrutivos chamados "Zen Of Screaming". Fãs de Metal que estudam técnica vocal certamente já a conhecem, mas se o nome não é familiar, talvez você conheça algumas das bandas com as quais ela já trabalhou: Slayer, Lamb Of God, Arch Enemy, Cradle Of Filth, Machine Head, Slipknot, Exodus, Suicide Silence, Trivium e muitos outros.
Há alguns atrás, era comum as pessoas considerarem vocalistas de Metal extremo como amadores que só sabiam gritar. Mas os tempos mudaram e até mesmo fora do gênero os profissionais de canto passaram a reconhecer as técnicas de vocal gutural e drive. Melissa Cross é uma das maiores referências do ramo atuando como professora de canto, além de já ter lançado dois DVD's instrutivos chamados "Zen Of Screaming". Fãs de Metal que estudam técnica vocal certamente já a conhecem, mas se o nome não é familiar, talvez você conheça algumas das bandas com as quais ela já trabalhou: Slayer, Lamb Of God, Arch Enemy, Cradle Of Filth, Machine Head, Slipknot, Exodus, Suicide Silence, Trivium e muitos outros.
Batemos um papo com Melissa sobre técnica vocal e ela deixou algumas dicas para quem ainda pretende profissionalizar-se como vocalista. Além disso, ela ainda respondeu dúvidas de vocalistas brasileiros, perguntas que foram enviadas por Mizuho Lin e Sergio Mazul (SEMBLANT), Odommok (FROST DESPAIR) e Adriano Pasini (ARMADA SA e BARRABÁS SOCIETY).
ALL THAT METAL: Olá, Melissa, como você está? Em primeiro lugar, você pode nos contar um pouco mais sobre o seu trabalho e como começou tudo até chegar ao ponto de lançar "The Zen Of Screaming"?
MELISSA CROSS: Depois de eu ter lecionado por cerca de oito anos, um amigo meu, que era um produtor de Connecticut, estava gravando com algumas bandas underground que eram muito rápidas e barulhentas, e não podia passar por uma sessão de gravação sem eles a tossir sangue, ele perguntou se havia qualquer coisa que eu pudesse fazer. A banda era Killswitch Engage. Poucos anos depois, espalhou-se na comunidade a notícia de que eu tinha descoberto uma maneira de obter esse som sem danificar a voz. A comunidade é restrita, todos os seus amigos vieram ver do que se tratava e o gênero em si se tornou cada vez mais popular. Isso chegou a um ponto onde havia muitas pessoas que precisavam dessas informações, pessoas demais para que eu pudesse ensiná-las uma a uma, e estava claro que havia uma necessidade por instrução facilmente disponível. Eu nunca sonhei que "The Zen Of Screaming" poderia ser tão popular quanto se tornou. Não é apenas para vocalistas extremos de metal, os mesmos exercícios funcionam para todos os gêneros musicais.
ATM: Por favor, conte aos nossos leitores alguns dos cantores notáveis que são seus "alunos".
MELISSA: A lista é tão longa quanto a dica para o banheiro em um festival! Você pode vê-la na página principal do meu website melissacross.com e eu sou muito grata pelas pessoas maravilhosas que apareceram no meu caminho.
ATM: Há tempos atrás, as pessoas pareciam não levar esse tipo de vocais a sério. Agora as coisas estão mudando e brincadeiras sobre o "Cookie Monster" estão acabando. Você acredita que você seja uma parte importante dessa revolução no metal?
MELISSA: Sem querer soar pretensiosa, o fato é que há uma maneira de produzir esse som de uma forma saudável e essa é a razão por que o dano vocal não é mais considerado "um rito de passagem" para vocalistas.
ATM: Qual é o principal conselho que você pode dar para pessoas que querem começar a cantar?
MELISSA: Primeiro, verifique suas motivações. Em segundo lugar, caso você esteja tentando fazer isso profissionalmente, se você pode ser feliz fazendo qualquer outra coisa, então faça isso. A vida de um vocalista só é agradável para aqueles que sentem que vão experimentar uma morte emocional/espiritual, se não o fizerem. Não pense demais, não corte caminhos, mas não imite e, se está machucando, está errado.
ATM: Você pode listar os tipos de vocais extremos que encontramos hoje em dia no rock/metal?
MELISSA: Há uma forma que você poderia descrever cientificamente o que as gargantas estão fazendo, e algumas pessoas vão dizer que certos sons pertencem a determinados tipos de metal, porém eu penso que tudo isso cai na categoria de usar a voz de um jeito que nunca tinha sido aceitável antes. Dito isso, hoje em dia não há problema em sair totalmente do tom e gritar. Alguns cantores mantêm a afinação no canto, alguns não, e a maioria faz ambas as coisas. É tudo relacionado ao que está acontecendo nas suas gargantas. Aquele que tem o melhor controle tem mais longevidade nas turnês e o melhor som.
ATM: Cantores de metal são uma espécie realmente estranha. Você já passou por algum tipo de situação engraçada com um deles?
MELISSA: Meu momento favorito foi com D. Randall Blythe (Lamb Of God), perseguindo seu hobby de colecionar chicotes. Após uma aula, ele me perguntou onde poderia encontrar chicotes em Manhattan, e o único lugar que lembrei foram alguns dos sex shops depravados de porão na Cristopher Street. Eu fui com ele para encontrar um chicote e, encontrando um, levamos para o caixa. A garota atrás do caixa perguntou, "isso é para você, ou para ela?" Eu disse, "É para nós dois, eu sou mãe dele." A garota ficou vermelha como uma beterraba e claramente não estava esperando pela minha resposta.
ATM: Nós estamos fazendo uma série de posts celebrando o legado de Ronnie James Dio nesta semana. Eu quero saber o que você pensa sobre a música desse cantor lendário.
MELISSA: Ronnie James Dio é um dos maiores cantores de todos os tempos. Ponto, fim da história.
ATM: Nós temos algumas perguntas de cantores brasileiros para você:
"Você pode nos falar sobre exercícios de aquecimento e desaquecimento para a voz? Além disso, eu gostaria de saber sobre que tipo de cuidados deveríamos ter para cuidar da voz através dos anos."
- Odommok, Frost Despair
- Odommok, Frost Despair
MELISSA: Meu DVD, "The Zen Of Screaming", tem exercícios relacionados à fala e ao canto que levam ao cuidado completo do instrumento vocal. Não há evidência científica de que exercícios de desaquecimento são de qualquer utilidade, no entanto o que um cantor pensa que vai beneficiá-lo o fará, independente de soar científico ou não. A voz é operada pela imaginação e a mente é algo muito poderoso.
"Nós sabemos que, para fazer o gutural, aumentamos a pressão nas falsas pregas vocais. Mas como podemos conseguir uma potência maior, não deixando o gutural cair nas verdadeiras pregas vocais?"
- Mizuho Lin e Sergio Mazul, Semblant
- Mizuho Lin e Sergio Mazul, Semblant
MELISSA: O modo que vocês me fizeram a pergunta me indica que não está claro para vocês que esses são tipos diferentes de gritos. Um que usa as falsas cordas vocais envolverá as verdadeiras por definição. As falsas cordas vocais não produzem frequência (sonora), elas não vibram em um tom. São as verdadeiras cordas vocais, que estão cobertas pelo fechamento superior mais acima no pescoço das falsas, que geram o som da voz e a criação da voz na laringe num ponto mais alto cria os aspectos distorcidos do som. Sempre que você ouve uma voz, ou seja, a cantada ou a falada no som de um cantor, ela está vindo das cordas vocais verdadeiras, e eu vi isso em primeira mão em um laboratório. O grito que não tem nenhuma voz, o que chamo de "fritar" no meu DVD "Zen Of Screaming 2", envolve as cordas vocais verdadeiras se aproximando e vibrando de uma forma caótica, de modo que não há uma nota discernível, mas uma vibração caótica que soa como barulho de estática.
"Aprendi de forma empírica a usar a mesma técnica que Corey Taylor usava para cantar na fase do album "Iowa".Eu travo a musculatura do abdômen e percebo a musculatura do pescoço enrijecendo também, para que as cordas vocais vibrem com a pressão para fazer a distorção. É realmente muito potente, mas normalmente causa dores de cabeça quando pressiono demais, assim como para cantar lírico. As dores são tão fortes que eu preciso me deitar para aliviar aos poucos a dor. Como faço para usar da mesma potência vocal sem precisar correr riscos de saúde?"
- Adriano Pasini, Armada SA e Barrabás Society
- Adriano Pasini, Armada SA e Barrabás Society
MELISSA: Você precisa desesperadamente do meu DVD e Corey Taylor fez "Iowa" antes de estudar comigo, e sua técnica eventualmente o pegou, quando ele se tornou meu aluno durante a tour de "Subliminal Verses". O que tem poupado você do desastre vocal é que você provavelmente é capaz de uma pressão sub-glotal muito boa, significando que seu diafragma é forte e apto a manter o ar atrás das cordas vocais quando você está fazendo essas manobras extremas. Sua dor acontece quando você perde essa conexão, e ela é muito provavelmente perdida devido a uma falta de controle. Você precisa de ajuda. O que se torna problemático é que, quando você fica fisicamente doente ou não dorme direito e está em turnê, e sua técnica é inconsistente, é quando você está sujeito a danos vocais sérios. Quando você está em turnê, não tem tempo para se recuperar.
ATM: E agora, minha pergunta pessoal: estou enfrentando algumas dificuldades para manter a afinação quando estou fazendo gutural inalado. Que tipo de exercícios você recomenda para resolver isso?
MELISSA: Para gutural inalado, as pregas vocais estão fazendo precisamente o que meu "Fritar" faz, porém o ar está indo na direção oposta, porque é uma vibração caótica a afinação é desprezível. Se você quer tentar atingir uma nota através de gritos anasalados, as notas deveriam ser dentro de 3 ou 4 meio-tons. Isso porque, para uma verdadeira nota ser percebida, as cordas vocais verdadeiras precisam vibrar em ciclos específicos por segundo para criar essa nota. Notas são definidas através de ciclos por segundo. A produção de voz através das falsas cordas vocais envolve notas e as cordas verdadeiras, e distorção adicional a partir de tecidos mais acima na faringe para criar a distorção.
ATM: Antes de terminarmos, por favor, diga-nos que bandas e artistas você usualmente ouve. Não importa se são metal ou não.
MELISSA: Eu escuto tanta variedade de música, muito disso é material novo das bandas com quem trabalho, eu tenho a sorte de obter previews de todos os meus maravilhosos clientes. Meus gostos não se resumem a metal. Eu gosto de tudo que é bom.
ATM: Obrigado por seu tempo, Melissa! Por favor, deixe uma mensagem para nossos leitores e vocalistas.
MELISSA: Se vocês vão fazer isso, façam direito e sempre da melhor maneira possível. Não deixem que ninguém ouça músicas que não são o melhor que podem ser. E lembrem-se: tanto quanto a música significa para vocês e apesar do fato que não há maior amor que o que vocês têm por sua música, ninguém se importa. Mas vocês podem fazer os outros se importarem se por algum acaso vocês os levarem a outro nível em sua existência mundana e lhes derem momentos de felicidade criando boa música.
Agradecimento especial para a primeira-dama do ATM, Martha Buzin, pela colaboração na tradução da matéria.
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