Entrevista: TRAIL OF SINS (Artur Arndt)

terça-feira, 11 de junho de 2013

 

 por Paulo Momento

Em uma noite de domingo, fui recebido pelo pessoal da Trail of Sins para conferir o ensaio com a nova formação da banda. Atualmente a Trail Of Sins conta com Artur Arndt (G), Vinicius Cunha da Silva (G), Nany Yates (V), Paula Oliveira (B), Marcelo Rubira (D). Foi um convite especial, pois fui um dos membros que recentemente deixou a banda, e a expectativa em torno da nova formação era grande. Fui recebido com vinho e salgadinhos, em uma bela confraternização, afinal, saí da banda, mas mantive os amigos! O vídeo que segue é desse ensaio, e atesta que a banda está afiada para o show no Bokada Metal Fest 2. Após esse ensaio, e com base no que conversamos, fiz uma entrevista com o guitarrista e fundador Artur Arndt, um apanhado geral sobre a história da banda, a cena local de Pelotas, a produtora Bokada e muito mais. Confira!


Vídeo exclusivo de um ensaio da banda para o All That Metal.


ALL THAT METAL: Como surgiu a Trail of Sins? Fale um pouco sobre a história da banda.
ARTUR ARNDT: Antes de a banda começar, eu e a Márcia Lopes, primeira vocalista, compusemos duas músicas (Desencontro e Algoz). Eu gostei bastante das músicas e mostrei para o Marcelo Rubira, baterista, e assim fizemos os primeiros ensaios. Sentíamos falta de um baixista e surgiu a ideia de chamarmos o Paulo Momento, que recentemente havia retornado para Pelotas e já conhecíamos seu trabalho de bandas anteriores, como a M26.
Assim se consolidou a primeira formação, com a qual foi realizado o primeiro show, e escolhemos o nome Trail of Sins. Essa formação inicial durou pouco tempo, pois a Márcia decidiu sair da banda por preferir um estilo mais rock e não o formato metal que as composições estavam tomando. Com a saída da Márcia, convidamos a Reizel Cardoso para assumir os vocais, e quase simultaneamente, convidamos Ricardo Antunes para assumir as guitarras junto comigo.  Esta formação durou o ano de 2011 e fizemos algumas apresentações aqui na cidade, das quais podemos destacar a participação nos festivais Sounds From the Grave III e Natal do Mal. No início de 2012 houve mais uma mudança de vocalista e convidamos a Nany Yates. Fizemos as primeiras apresentações fora de Pelotas, em cidades da região sul do RS. Em termos de shows, foi um ano bom. Ficamos com este line up até o início deste ano, quando o Paulo Momento deixou a Trail of Sins para se dedicar a seu projeto Sathaboz e a sua profissão. Neste mesmo período, o guitarrista Ricardo Antunes também deixou a banda.  Em seguida passaram a fazer parte da banda o Vinicius Cunha, ex-Deciphering, na guitarra e a Paula Oliveira, guitarrista da Vetitum, no baixo/voz. Esta formação está se firmando, e temos tido uma ótima convivência.

ATM: É sabido que as constantes mudanças de formação acabaram por atrasar o andamento da banda. Será que com a formação atual pode-se dizer que a Trail of Sins estabilizou seu line-up?
ARNDT: De fato, mudanças de line-up são sempre trabalhosas, pois leva tempo e dedicação para que todos estejam ensaiados e adaptados, tanto os novos, quanto os antigos integrantes. Mas quando há um bom clima entre os integrantes, as coisas acabam se resolvendo por si. A Paula e o Vinicius vestiram a camisa da banda e estão se dedicando bastante, isso faz muita diferença, pois em menos de dois meses na banda, já estamos acostumados a tocar juntos. Estou otimista com este line-up e acredito que estabilizaremos nesta formação.

ATM: Como definirias o estilo da banda? Quais as principais influências?
ARNDT: A banda basicamente toca Dark Metal, mas nosso som é uma mistura de diversos estilos e influências. Nossas músicas são bastante diferentes entre si, refletindo as diversas características dos integrantes atuais e anteriores, misturam stoner, heavy, black, gothic-doom metal e alguns elementos de músicas dark dos anos 1980. Podemos perceber influências de bandas que vão desde Black Sabbath, passando por bandas com vocais femininos, como The Gathering e sons mais experimentais como Anathema.

ATM: Algumas músicas da banda são escritas em português, outras em inglês. Há alguma preferência por um dos dois idiomas ou a banda não faz restrições quanto a isto? Há quem diga que é mais difícil fazer Metal em português, concorda?
ARNDT: Atualmente, temos uma predileção maior de compor em português, entretanto não descartamos composições em inglês. Considero compor em português, especialmente desafiador, pois desde a métrica das letras até o significado apresentam barreiras. Por outro lado é difícil fugir completamente do inglês, as referências que temos dentro do metal normalmente são neste idioma, assim como ocorre com as bandas de diversos países que não tem o inglês como seu idioma principal.  Acaba que a grande maioria das pessoas está acostumada a estas referências internacionais e consegue estranhar menos um metal em norueguês, por exemplo, do que em português. Para a gente, essa falta de referência em nossa língua nos faz ter mais trabalho, pois temos que “criar” nossas referências.

ATM: Por que a Trail of Sins até hoje não tem um material oficial gravado? Fale sobre esse lance de gravação que está rolando com o projeto Gravaêh; seria esta a solução para a falta de um registro oficial, ou um material para se ter na mão até gravarem algo definitivo?
ARNDT: As mudanças de formação são o principal obstáculo para as gravações, por que sempre leva tempo até estarmos prontos para o estúdio e sem estabilizar a formação, isso se torna complicado.
Já tínhamos ouvido falar do projeto Gravaêh!, da ONG Cirandar, que é uma proposta bastante diferente em que as gravações, feitas gratuitamente, ocorrem em um estúdio móvel, montado dentro de um ônibus! Quando soubemos que passariam por Pelotas inscrevemos a Trail of Sins e felizmente ficamos entre as 10 bandas selecionadas. A música escolhida foi "Desencontro" e integrará a coletânea da turnê Pelotas do Gravaêh!. Durante as gravações também participamos de entrevistas para mídias locais, o que tornou a experiência ainda mais positiva. Nosso único pesar é que neste dia o baterista Rubira encontrava-se com problemas de saúde e não teve condições de gravar. Como não havia possibilidade de adiar a gravação, o jeito foi gravar com uma bateria programada, para isso pudemos contar com o Bruno Añaña, que é produtor musical e integrante da banda Postmortem, que aceitou nos “salvar” neste momento. Como o estúdio móvel dispõe apenas de bateria eletrônica acreditamos que não houve um maior comprometimento do resultado final da gravação. Esperamos em breve iniciar a gravação de outras composições e finalmente ter um registro mais completo do trabalho da banda.


ATM: O pessoal da banda está sempre envolvido na organização de eventos underground, o que culminou na criação da produtora Bokada. Fale um pouco sobre os eventos que já fizeram e os planos para o futuro neste sentido.
ARNDT: O Bokada Produções teve seu embrião lá em 2011/2012, e sua história anda junto com a da Trail Of Sins. Estamos envolvidos, o Rubira e eu na produção e execução dos eventos, bem como em coordenar a equipe que trabalha nos festivais. Nossa parte de produção visual, é normalmente feita pelo Paulo Momento, com quem temos uma boa parceria nesse âmbito. Temos procurado fazer outras parcerias e conseguir patrocínios para poder custear melhor os eventos, etc. Graças aos eventos do Bokada, conseguimos abrir espaço para eventos underground no Wong Bar, onde o Ricardo, dono do local, tem acolhido a nossa cena aqui em Pelotas, pois estamos carentes de espaços para organizar eventos. Temos produzido os eventos Bokada Metal Fest, Bokada Hardcore Fest, Natal do Mal e produzimos o lançamento do CD da banda Sweet Virgin. Os equipamentos da Bokada Produções têm sido alugados para diversos festivais daqui da cidade, como por exemplo o Hardcore Pride, Dark City e Rock ‘n Roll Bop, entre outros. Procuramos trazer bandas de fora da cidade e da cena local, bem como colocar bandas daqui da região (sejam experientes ou não) no palco, pois consideramos essa vivência muito importante: dar chance às bandas novas e valorizar quem está na estrada já há algum tempo. Pretendemos continuar trabalhando com eventos underground, pois é isso que somos, mas para tanto precisamos fazer a produtora crescer, para que futuramente possamos oferecer melhor suporte para os músicos que se apresentam em nossos eventos.

ATM: Como é a cena local em Pelotas? Quais as principais bandas e eventos que gostariam de destacar? O que mudou do passado para a cena atual?
ARNDT: No início dos anos 1990, haviam alguns festivais, como por exemplo o Circuito do Rock, nesta época o Rubira já fazia parte da cena, foi organizador da Anarkofesta a partir de 1991, este festival teve três edições. Nessa época, a galera daqui pirou, a partir daí, a cena se desenvolveu e vários lugares abriram as portas e fecharam. Faz pouco tempo, Pelotas viu as portas do Galpão do Rock, que vinha sendo nosso principal espaço de shows underground, se fecharem. Atualmente temos espaço para organizar eventos no Wong Bar, como citei anteriormente. Dos festivais, lembro dos Freak Festival, dos Hell Underground, Noise Rock, Nocturnal Rites, Grindhouse, entre outros. Atualmente tem rolado aqui em Pelotas os festivais Circle Pit, Reage, Sounds From the Grave, Nightmares, Hardcore Pride, Dark City, os eventos da Instinto Produções e os eventos da Bokada Produções. São eventos que periodicamente ocorrem, no caso da Bokada Produções, temos tentado organizar um evento por mês. Atualmente nossa cena apresenta diversas deficiências, estamos tentando deixá-la mais forte. Das bandas autorais ativas podemos citar: Postmortem, Nottus, M26, Vetitum, Freak Brotherz, Bullseye, Suburban Stereotype, She Hoo's Go, Kame, Drunkenstein, Garbage Dogs, Sweet Virgin, Os Carangas...

ATM: Comenta-se que a banda vive atualmente uma boa fase, a qual pude atestar pelo que vi no ensaio. Quais são os planos daqui para a frente?
ARNDT: Nossos planos, seguindo uma ordem cronológica são: fazer uma estreia de respeito com este line up no Bokada Metal Fest 2, se dedicar a gravar as músicas que temos prontas, compor novas músicas e continuar com os shows!

ATM: O que a banda espera, e o que o público pode esperar para o show no Bokada Metal Fest dia 15/06 em Pelotas?
ARNDT: Nós da Trail of Sins esperamos um show de muita parceria e reciprocidade com o público e com as bandas que dividiremos o palco! Estamos confiantes com nossa nova formação, esperamos atender as expectativas do público!

ATM: Por fim deixe uma mensagem para quem estiver lendo esta entrevista! Agradeço em nome do All That Metal pela atenção!
ARNDT: Apoie sua cena local, faça o underground acontecer! Esperamos todos no Bokada Metal Fest 2, para conferir além do novo line up da Trail, Revogar e Iron Machine! Agradecemos ao All That Metal pelo espaço, valeu mesmo!!

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