Dando continuidade a nossa Semana Ronnie James Dio, hoje o vocalista está presente na seção Once Upon A Time, nosso espaço criado para relembrar grandes bandas que encerraram suas atividades. A banda da vez é o Rainbow, projeto criado pelo guitarrista Ritchie Blackmore após deixar o Deep Purple pela primeira vez. Mas como a postagem é uma homenagem a Dio, vamos nos concentrar apenas nos anos em que ele esteve a frente da banda. Não que a fase seguinte da banda não mereça destaque também, mas é inegável que o Rainbow entrou para a história através dos três álbuns gravados com Dio.
Tudo começou em 1974, quando Ritchie Blackmore revelou publicamente seu descontentamento com os rumos do Deep Purple. A banda havia lançado o álbum "Stormbringer", um álbum repleto de influências de Funk e Soul Music, ideias apresentadas por Glenn Hughes e David Coverdale, o que despertou toda a indignação de Blackmore. Durante as gravações do álbum, Blackmore sugeriu que a banda deveria gravar um cover para "Black Sheep Of The Family", de uma banda de Folk Rock chamada Fat Mattress. A ideia foi rejeitada pela banda, então Blackmore decidiu gravá-la como um single solo e chamou Dio (que na época estava no Elf) para gravar os vocais. Só que a ideia deu tão certo que eles decidiram formar uma nova banda.
Inicialmente chamado de Ritchie Blackmore's Rainbow, a formação original da banda contou com outros músicos do Elf, com Craig Gruber (baixo), Gary Driscoll (bateria) e Mickey Lee Soule (piano/orgão). Com essa formação, a banda entrou em estúdio para gravar o primeiro álbum autointitulado, um verdadeiro clássico do Rock'n'Roll, lançado em agosto de 1975. O álbum já abre com uma música que marcou para sempre a carreira de Dio, "Man On The Silver Mountain", cujo título tornou-se o epitáfio de seu túmulo.
Uma vez que o projeto estava ganhando maior projeção do que o esperado, Blackmore decidiu fazer algumas mudanças na formação. Apenas Dio foi mantido na banda (acho que nem um surdo seria capaz de mandar embora esse vocalista), com Jimmy Bain (baixo), Cozy Powell (bateria) e Tony Carey (teclados) completando o line-up. Se o caro leitor já está familiarizado com esses nomes, sabe muito bem que essa era uma banda de altíssima qualidade, com músicos de talento inquestionável. Essa é considerada a formação clássica da banda, com a qual o Rainbow gravaria seu próximo álbum de estúdio e um ao vivo. Soma-se a isso a crescente influência de Música Erudita em Blackmore, que na época estudou cello para ajudar a construir riffs mais criativos, e as letras épicas de Dio sobre fantasia medieval. Esse é o Rainbow clássico que todos conhecem.
No final de 1975, o Rainbow embarcou em uma turnê pela América de Norte que já incluia algumas das músicas presentes em seu segundo álbum. "Rising" foi lançado em maio de 1976, indo direto para o 6º lugar das paradas britânicas e ganhando disco de platina nos Estados Unidos. O trabalho marcou uma enorme evolução comparado ao debut da banda. Canções como "Tarot Woman" e "Stargazer" (possivelmente uma das melhores composições dos anos 70) marcaram esse registro com seus momentos grandiosos, misturando Heavy Metal, Prog e orquestrações. Em "Stargazer", por exemplo, a banda contou com a Orquestra Filarmônica de Munique, além das belas melodias vocais de Dio, um solo maravilhoso de Blackmore e Powell destruindo tudo na bateria.
Após o lançamento de "Rising", a banda embarcou em uma turnê européia no verão de 1976 (verão do Hemisfério Norte, no caso), estabelecendo também o seu nome como uma banda de performances memoráveis. Mas nem todos os músicos conseguiram acompanhar o fôlego de Dio e Blackmore, o que ocasionou a demissão de Bain em janeiro de 1977. O mesmo aconteceu com Carey, logo após a saída de Bain, encerrando de vez o período de ouro da banda com sua formação clássica. O álbum ao vivo "On Stage", lançado em 77, serviu como um legado para essa constelação de músicos fenomenais.
Necessitando de novos músicos para dar continuidade ao seu trabalho, Blackmore chamou um número considerável de músicos para audições, uma vez que as vagas de baixista e tecladista estavam disponíveis. Após muitas audições com vários tecladistas, quem ficou com o posto foi David Stone, do pouco conhecido Symphonic Slam. Para gravar as linhas de baixo do terceiro álbum, inicialmente foi recrutado Mark Clarke (Uriah Heep), mas Blackmore ficou tão insatisfeito com seu trabalho que decidiu ele mesmo gravar o baixo. O australiano Bob Daisley (que mais tarde tocaria com Ozzy Osbourne, Black Sabbath, Uriah Heep, Yngwie J. Malmsteen e vários outros) também contribuiu no álbum, gravando os baixos de 4 músicas, incluindo a faixa título.
O terceiro álbum da banda finalmente saiu em abril de 1978, sob o título de "Long Live Rock'n'Roll". O álbum entrou para a história da música graças a sua faixa título, um hino que Dio incluiu em suas performances solo ao longo dos anos, além de ter sido regravada para a trilha sonora do filme Rockstar, em 2001. Outro destaque é "Kill The King", que já era executada ao vivo desde 1976 e fez parte de "On Stage", sendo pela primeira vez lançada em uma versão de estúdio. Essas foram as duas únicas músicas do álbum que foram tocadas ao vivo durante a turnê de divulgação do mesmo. A única excessão foi "LA Connection", que virou hit nos Estados Unidos e foi apresentada em alguns shows pela América do Norte. "Gates Of Babylon" é outro destaque do disco, uma canção que esteve presente em várias apresentações solo de Dio em seus últimos anos de vida.
Após uma extensa turnê iniciada em 1978, o chefão Blackmore informou Dio que ele gostaria de mudar o direcionamento da banda para algo mais acessível, além de parar de abordar temas fantásticos nas letras do Rainbow. Dio não gostou nem um pouco da decisão e optou por deixar a banda, encerrando assim suas atividades ao lado do ex-guitarrista do Purple. Logo depois de deixar a banda, Dio seria chamado para integrar uma certa banda inglesa chamada Black Sabbath. Já ouviram falar deles?
O Rainbow passou por várias mudanças ao longo dos próximos anos, encerrando suas atividades em 1984, quando Blackmore decidiu fazer parte da reunião do Deep Purple. Ele ainda realizaria uma reunião do Rainbow nos anos 90, gravando apenas um álbum e depois abandonando sua guitarra para formar o Blackmore's Night ao lado de sua esposa, Candice Night. A tarefa ingrata de substituir Dio ficou por conta de Graham Bonnet (1978-1980), Joe Lynn Turner (1980-1984) e Doogie White (1994-1997). Uma possível reunião da formação clássica do Rainbow ficou em debate durante muitos anos, algo que nunca chegou as vias de fato. O mais próximo disso foi Jimmy Bain tocando na banda solo de Dio por muitos anos, além de um possível projeto que poderia reunir Dio, Steve Vai e Cozy Powell em meados dos anos 90. Esse projeto não foi levado adiante devido ao triste acontecimento que tomou a vida de Powell, falecido em um acidente de carro no dia 5 de abril de 1998.
Não há como negar que o Rainbow foi o primeiro trabalho de maior exposição de Dio, tornando seu nome mundialmente reconhecido. Desde a primeira nota cantada em "Man On The Silver Mountain", o Rock'n'Roll e o Heavy Metal ganharam um vocalista que entraria para a história da música, talvez a voz definitiva desses gêneros musicais. Poucos anos depois, e com mais liberdade para criar sua própria música, esse baixinho provaria ser um gigante do Metal e ainda lançaria diversos álbuns inesquecíveis para fãs do mundo inteiro. Vida longa ao legado do homem na montanha prateada!
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