Um
aviso: este post pode ser ofensivo e não é destinado aos
Undergrounds de Facebook, portanto, se tu acreditas que Krisiun é a
única banda de qualidade de metal no Rio Grande do Sul, passa boa
parte do tempo procurando a banda mais desconhecida de Death Metal do
Casaquistão para compartilhar o link do Youtube no seu Facebook e
acredita que um colete repleto de patches e algumas fotos com uma
coleção de álbuns fazem de você um verdadeiro headbanguer, feche
agora este post e volte para a Encyclopaedia Metallum procurar bandas
longes do seu país para venerar.
Recentemente
o All That Metal lançou uma campanha irônica, a CA$H 4 GIG, uma
forma para incentivar vocês, fãs de metal, a pagarem para as suas
bandas preferidas locais serem as bandas de abertura de shows
internacionais. O por quê?
Talvez
nem todos saibam, mas se instaurou na capital (e talvez somente na
capital por, mesmo não sendo a única, ser uma das poucas cidades
gaúchas a receberem shows internacionais) uma política entre as
produtoras locais de selecionar a banda de abertura de acordo com
vínculo financeiro emocional
da mesma com a banda de fora. Isto porque, o valor cobrado pelas
produtoras para que determinado grupo “abra”, na maioria das
vezes passa dos mil reais.
Convenhamos
que ter uma banda não é barato: instrumentos (sem contar a
reposição de cordas, baquetas, palhetas, peles e etc), estúdio de
ensaio, locomoção, produção e muitos outros gastos.
O
que antes era um motivo de orgulho para a banda e seus fãs, de
poderem abrir para um show gringo e ganhar visibilidade em virtude de
sua qualidade, hoje se tornou apenas mais um filtro que separa bandas
com condições financeiras de pagar pelo seu “reconhecimento”
das que lutam para sobreviver no cenário independente. Em resumo,
nós somos contra o valor cobrado pelas produtoras de Porto Alegre de
bandas independentes para que essas façam o show de abertura de
bandas de fora (e até mesmo algumas bandas nacionais mais
conhecidas).
Na
verdade, o nosso intuito com a CA$H 4 GIG era apenas chamar atenção
para o que está acontecendo, até porque ela não foi planejada e
nem mesmo é uma campanha de fato. Porém, por mais sarcásticos que
tenhamos sido ao falar sobre isso em um post inocente no Facebook,
nós fomos supostamente censurados.
O
cartaz da Campanha em questão foi compartilhado na nossa
página do Facebook e
fazia referência ao assunto que seria tratado no programa que vai ao
ar pela Rádio Putz Grila. Após ele “sumir”, o Tiago Alano o
compartilhou na página pessoal e se mantém lá até hoje.
Tentamos
compreender o lado de quem pratica essa cobrança, mas ficou ainda
mais complicado quando o Lucas Queiroz procurou determinada produtora
e o máximo de resposta que obteve foi uma visualização na caixa de
mensagem do Facebook (mas deixamos o espaço aqui aberto caso algum
produtor queira se manifestar).
Falo
por experiência própria: não é fácil e muito menos barato
organizar um festival. Já organizei alguns na minha vida, nunca
recebi reclamações de quem compareceu, mas um dos fatores que me
fez desistir disso (além dos prejuízos que levei) foi o fato de não
ter tempo hábil para conseguir patrocinadores e ajudar as bandas que
tocavam no meu evento como eu queria. Fazia a coisa realmente por
amor a camiseta preta, porque a única recompensa que obtive nas
tentativas de fazer algo para contribuir com a cena no interior do
estado foram alguns saldos negativos na conta e os inúmeros amigos
que fiz nestes anos.
Compreendemos
também que, se elas praticam isso, é porque há músicos que pagam.
É claro que grande parte das bandas que fazem isso são de extrema
qualidade e não tiramos o mérito disto, mas é necessário
reconhecer que essa atitude prejudica (e muito!) as demais bandas,
além de colaborar para que casos assim continuem acontecendo. É
inviável que pagando valores exorbitantes para tocar uma banda
consiga sobreviver de música, até porque hoje, nos tempos de
download rápido, é em shows que músicos tiram seu sustento, visto
que a venda de mídias é a cada ano menor.
Mas
se a “culpa” é das produtoras e dos músicos e se ambos estão
satisfeitos assim, por que nós estamos falando sobre isso?
Acreditem,
quem trabalha com a imprensa no underground não recebe nada além de
algumas entradas gratuitas para shows. Ainda assim, estamos sempre
preocupados em anotar tudo, fotografar e dar atenção aos detalhes
para então exercermos nosso ofício. Portanto, mesmo que não seja
da nossa alçada mudar algo neste contexto, é inevitável que para
nós (alguns músicos, outros apenas ouvintes) do All That Metal isso
tudo não represente uma cena lamentável e triste. Todas as nossas
ações, que vão desde investir em equipamento até procurar
parcerias em outros meios de comunicação é com o intuito de ajudar
a cena independente e contribuir da nossa forma com as bandas que nós
apoiamos. É por isso que, na tentativa de mudar essa situação,
estamos aqui apresentando os fatos àqueles que ainda realmente
podem mudar isso: o público!
Quer
apoiar a cena? Vá em shows, pague pelos ingressos, mostre que
realmente tem interesse em ver as bandas que são daqui e
principalmente, CONHEÇA as bandas do seu estado! Neste ano, inúmeras
bandas gaúchas lançaram trabalhos que não perdem em nada de
qualidade para bandas gringas, é o caso do álbum Die in Hands of
Believers (banda Hate Handles), Killing the image of your god
(Dyingbreed) e A New Beginning (Prophajnt) todos já mencionados em
posts passados do All That Metal. "We thrive on what's stronger than most of the world!"