Review de Show: Avantasia em São Paulo (29/06/2013)

sábado, 6 de julho de 2013


Essa resenha foi escrita a quatro mãos, por Caio Botrel e Paola Rebelo, infelizmente os únicos da equipe do All That Metal que tiveram a honra de testemunhar um dos melhores shows do ano de 2013.

Na chuvosa noite de sábado (29/6), São Paulo recebeu um dos maiores espetáculos do mundo do metal. O evento organizado pela produtora Free Pass lotou a casa HSBC Brasil para ver o Avantasia em sua terceira passagem pela capital paulista. O show único em território nacional fez parte do The Mystery World Tour, em divulgação do novo álbum The Mystery of Time, lançado em março deste ano.

As portas da casa se abriram às 20h, e o show teve início pontualmente às 22h. Tobias Sammet, líder do projeto, já havia avisado que nenhum concerto dessa turnê teria bandas de abertura, pois gostaria que sua metal ópera fosse a única atração da noite, a fim de marcar a passagem do Avantasia como um acontecimento extraordinário aos fãs. Assim, as luzes se apagaram, e a multidão começou a gritar ao som introdutório de "Also Sprach Zarathustra", música tema do filme "2001: Uma Odisseia no Espaço".

A formação instrumental do Avantasia utilizada nessa turnê contou com a presença de André Neygenfind (Groove Galaxi) no baixo, Michael "Miro" Rodenberg (Rhapsody of Fire) no teclado e Felix Bohnke (Edguy) na bateria, enquanto Sascha Paeth (Heaven's Gate) dividiu as guitarras com Oliver Hartmann (At Vance), um dos vocalistas do projeto. As vozes ouvidas no HSBC, além de Oliver e Tobias, foram as de Bob Catley (Magnum), Eric Martin (Mr. Big) e, é claro, Michael Kiske (Helloween), a cereja no topo do bolo. Amanda Sommerville (Trillium) e Thomas Rettke (Heaven's Gate) foram os backing vocals da turnê, porém também tiveram seus momentos de protagonizar algumas canções ao longo do show.

A banda toda é de tirar o chapéu, o vocalista e compositor principal da banda Tobias Sammet, canta com uma técnica impecável, e que mesmo após tantos anos de carreira e tantos shows sua voz continua potente e linda. A dupla de guitarras Sascha Paeth (co-compositor e produtor) e Oliver Hartmann, demonstra uma sintonia incrível, entre solos, riffs e melodias os dois se divertem e são a dupla de guitarras ideal para o Avantasia. Na cozinha temos Felix Bonkhe na bateria e André Neygenfind no baixo, que fazem a banda soar mais potente ao vivo e bastante segura. É a vez na história do Avantasia que André toca com a banda, e a combinação foi épica. Miro nos teclados faz com que toda orquestração presente nos álbuns do Avantasia soem perfeitas e bem fiéis as gravações de estúdio. O time de vocalistas convidados completam as músicas e partes vocais junto de Tobias Sammet, fazendo com que a banda soe, com toda a certeza do mundo, uma das melhores bandas ao vivo da história.

A música escolhida para abrir a setlist foi a "Spectres", a primeira faixa do The Mystery of Time, cantada apenas por Tobias Sammet, apesar de na versão original o microfone também ter sido passado a Joe Lynn Turner (Rainbow, Deep Purple), que não participou da turnê. Em seguida, Sammet e Oliver são as vozes de "Watchmaker's Dream", também do novo álbum e também cantada primeiramente por Turner.

A terceira música é um clássico resgatado do EP Lost in Space Part I, lançado em 2007. Em "The Story Ain't Over", Sammet divide os holofotes com Bob Catley, o carismático bom-velhinho do Avantasia, e Amanda Sommerville. A seguir, Catley cumprimenta a plateia brevemente, e ele e Tobias seguem mais uma vez para o dueto com a música "The Great Mystery", peculiarmente colocada no início da setlist, pois se trata do grand finale do The Mystery of Time.

Como se pudesse prever o que viria a seguir, o público começou a gritar pelo nome de Kiske pouco antes de ele próprio entrar no palco para cantar "Reach Out for the Light" com Tobias. Ovacionado pela plateia, ele avisa "não é só Kiske... É Avantasia", porém Tobias responde prontamente "mas também é Michael Kiske!", e dessa vez os gritos dos fãs clamaram o seu nome. O líder do Avantasia aproveitou a oportunidade para contar que foi Kiske quem o trouxe para o metal, pois ele era um grande fã de Helloween em sua infância. Após cantarem juntos "Breaking Away", Tobias já se mostrava emocionado com a energia do público brasileiro: "absolutamente fantástico... Sempre que viemos a São Paulo, vocês são absolutamente fantásticos!"

A única voz da próxima música, "Scales of Justice", foi uma novidade para os fãs do projeto de Sammet. Thomas Rettke já trabalha com os backing vocals de Avantasia e do Edguy há alguns anos, porém, como disse Tobias, já estava na hora de ele mostrar que também é um bom vocalista solo. Além de Tobias Sammet, Rettke foi a única voz que cantou sozinha durante o concerto e, sem qualquer sombra de dúvida, fez jus à música originalmente cantada por Tim "Ripper" Owens (Judas Priest, Iced Earth).

 E mais um rosto novo surgiu no palco do Avantasia: Eric Martin, cuja primeira aparição na metal ópera de Tobias foi com o álbum The Mystery of Time. Junto a Sammet, cantou a primeira balada do show: "What's Left of Me", a faixa que já haviam cantado juntos no álbum lançado em 2013. Tipicamente um cantor de hard rock, Martin se mostrou lascivo e brincalhão em palco, sendo dos membros do Avantasia quem mais interagiu com o público durante todo o show.

Após a canção, ele pediu para levantarem as mãos para contar o número de homens e mulheres na plateia, e falou um pouco sobre seu tempo de estrada, tanto com o Avantasia como também com outros projetos e bandas. Em suas próprias palavras: "sabem... Eu não sou mais um virgem", ao que Amanda respondeu com um sonoro "não é minha culpa!". Após trocarem brincadeiras e arrancarem risadas do público, Tobias e Eric cantaram "Promised Land", com alguns resvalos e erros na letra, mas sem maiores problemas.

"Scarecrow", música homônima a um dos melhores álbuns do Avantasia, foi um dos momentos mais memoráveis do show de São Paulo. Não foi cantada somente por Amanda, Tobias e Oliver, mas sim por todas as 4.800 pessoas que compunham o público do HSBC. A música teve o solo prolongado por Oliver e Sascha por alguns escassos e preciosos minutos em que os instrumentistas poderiam sair da sombra dos poderosos vocalistas do projeto.

Tobias nunca escondeu o seu apreço pelo Brasil e pelos fãs brasileiros ("Lavatory Love Machine" está aí para provar isso!), e no sábado o frontman do Avantasia e do Edguy parecia novamente cativado pelo entusiasmo do público local. "Eu tenho um pressentimento que vocês, São Paulo, são os melhores e mais barulhentos fãs de heavy metal do mundo!", gritou Sammet, "vamos tocar uma canção rápida para vocês agora!"

Catley e Kiske se juntaram a Tobias no palco para cantar "Shelter from the Rain", também do álbum The Scarecrow. Mais uma vez, Kiske errou a letra dessa música (será bloqueio?) e começou a rir, porém o público não pareceu se importar. Com a letra certa ou não, estamos falando de Michael Kiske, o homem do super gogó. A mera oportunidade de ouvi-lo ao vivo foi suficiente para levar à loucura os headbangers que berravam a plenos pulmões "olê, olê, olê, Kiske, Kiske!". Tobias Sammet não poderia ter acertado mais em cheio quando decidiu convidá-lo a participar do Avantasia.

O palco se esvaziou momentaneamente. Apenas Tobias, Bob e Miro permaneceram, e todos já sabiam que se repetiria a excelente performance de "In Quest For", do álbum The Metal Opera Part II, vista em São Paulo no show de 2010. Pouco se ouviu do nome de Bob Catley na plateia durante o show, porém o "maestro" (com sua mãozinha nervosa enquanto canta) foi, como de praxe, uma das vozes-destaque da noite. No auge dos seus 65 anos, o vocalista do Magnum ainda mantém sua voz em um timbre potente, intenso e cativante.

A simplicidade suave e melodiosa de "In Quest For" foi substituída por um palco mais uma vez cheio e enérgico para "The Wicked Symphony", cantada por Bob, Tobias, Thomas e Amanda. O setlist escolhido dançou por todos os álbuns e estilos de músicas do Avantasia, elaborado minuciosamente para agradar a todos presentes dentro do HSBC. Como o próprio Tobias disse, "não vamos para casa até cada um de você estar completamente feliz e satisfeito".

E isso se provou mais uma vez verdade quando, para os fãs das baladas mais pop do projeto como "Carry Me Over" e "Sleepwalking", Tobias cantou sozinho "Lost in Space". Corrigindo, não sozinho... Apesar de ser uma das faixas do Avantasia que os fãs adoram colocar defeito, todos os presentes sabiam a letra da música de cor, e uniram suas vozes à de Tobias do início ao fim.

De volta às músicas do álbum da turnê presente, Eric retorna ao palco para a épica "Savior of the Clockwork", junto a Tobias, originalmente cantada nas vozes do quarteto Kiske, Tobias, Joe Lynn Turner e Biff Byford (Saxon). Já "Stargazers", do álbum Angel of Babylon, lançado em 2010 é uma música que foi reduzido seu número de vocalistas: na versão de estúdio, ouvem-se as vozes de Jørn Lande, Russell Allen, Oliver, Tobias e Kiske, enquanto no show em São Paulo a música foi interpretada apenas por Oliver, Thomas e Kiske. O que foi peculiar durante essa faixa em específico foi que, embora cada um dos cantores interpretasse a voz de um dos ausentes na música individualmente, foi necessário unir as três vozes para substituir a penetrante voz do norueguês Jørn Lande, que infelizmente não pôde estar presente nessa turnê do Avantasia.

Eric Martin retorna ao palco para provocar o baixista André Neygenfind, pedindo para a plateia gritar "fuck you, André". Após, apresentou brevemente os homens por trás das cordas - André e os guitarristas Sascha e Oliver, e introduziu a música que cantaria a seguir com Tobias e Amanda: "Twisted Mind", faixa de abertura do álbum The Scarecrow. Ela teria também funcionado perfeitamente no início ou no final da setlist, por possuir uma distorção que lhe concede mais força e a torna mais pesada, ainda que não seja a mais acelerada das canções de Tobias.

Ao invés de seguirem direto para a próxima música, Eric e Tobias improvisam uma paródia teatral cômica com ares de tragédia grega, arrancando risadas do público. Depois, Tobias tentou assumir um tom mais sério para avisar aos fãs de que o tempo de show está se esgotando, porém o microfone foi prontamente roubado por Eric: "nas palavras de Shakespeare, foda-se!", disse o vocalista do Mr. Big, que complementou dizendo que não tinha certeza se fora Shakespeare quem dissera aquilo, mas tinha certeza que alguém que tinha "Spear" no nome, possivelmente Britney Spears.

A música que veio a seguir é uma das mais famosas do Avantasia, e por um motivo compreensível: a voz convidada a fazer dueto com Tobias, na gravação original, é ninguém menos do que Klaus Meine (Scorpions). "Dying for an Angel", do álbum The Wicked Symphony, contou com a voz de Eric Martin para substituir Meine que, com sua interpretação despojada e sempre entusiasmada, conquistou até mesmo os fãs que ainda acreditavam que um cantor de hard rock não teria espaço em uma metal ópera.

As luzes se apagaram e o palco foi deixado vazio para que os fãs gritassem por bis... No entanto, São Paulo fez melhor do que isso. Os fãs de Avantasia estavam determinados a provar que, como o próprio Tobias havia dito, eram os melhores fãs de metal do mundo. Em uníssono, um coro de quatro mil e oitocentas cabeças começou a cantar várias vezes seguidas o refrão da música "Avantasia". Não tardou até que Tobias retornasse ao palco, visivelmente cativado com o público brasileiro. "Sabem, vocês fazem isso melhor do que nós mesmos", disse com um sorriso genuinamente satisfeito, "suponho que queiram mais uma música?"

A "mais uma música" de Tobias acabou se estendendo mais quatro, fechando o repertório da noite com 22 músicas, um dos maiores shows da The Mystery World Tour até então. A banda voltou ao palco para a clássica "Farewell", do The Metal Opera Part I. Como sempre, essa música foi um dos pontos altos do show, e se ouviu todo o HSBC unir suas vozes às de Kiske, Tobias e Amanda em um dos refrães mais marcantes do Avantasia.

Tobias contém os gritos do público de São Paulo momentaneamente para falar, mais uma vez sobre como Michael Kiske inspirou a cantar, e o quão importante a presença dele é para o Avantasia. O ex-Helloween responde comentando sobre como ninguém havia tido a ideia ou sequer acreditava na ideia de uma metal ópera quando Tobias iniciou o projeto Avantasia, em 1999. "Eu estive fora do mundo da música por 17 anos, e foi ele quem me trouxe de volta aos palcos", disse Michael, "ele não é só um grande cantor, ele não é só um grande compositor. Ele tem uma grande alma, sempre quer que todos estejam o melhor possível. Sabe o que é isso, Tobi? Personalidade". Tobias Sammet e Michael Kiske se abraçaram e uniram suas vozes para cantar "Avantasia", a música que o público clamou durante o bis.

O líder do Avantasia pergunta se os fãs de São Paulo são corajosos o suficiente e estão acordados o suficiente para enfrentar a maior música do Avantasia, e todos já sabiam que se tratava de "The Seven Angels" antes mesmo de Tobias anunciar a música. Ela foi tocada em sua versão completa, com cerca de 14 minutos de duração, e cantada por Tobias, Thomas, Amanda e Kiske no lugar de André Matos (Angra, Shaaman).

Se Tobias Sammet não dissesse que aquela poderia ser a última turnê do Avantasia, os fãs poderiam começar a desconfiar que se tratava de um impostor. "não estou dizendo não", alerta o líder do projeto, "mas se houver, com certeza voltaremos a São Paulo!". E surpreendendo quem acreditou que não haveria mais nenhuma música depois da eterna "The Seven Angels", o palco se encheu com todos os membros da metal ópera para cantar "Sign of the Cross". A música foi interrompida logo no início e Tobias apresentou um por um dos instrumentistas e vocalistas presentes na The Mystery World Tour. Terminadas as apresentações, a música continuou, a única performance em todo o show em que todos os cantores participaram juntos com um desempenho majestoso que não deixou dúvidas que aquele momento foi preparado para ser o mais épico dos desfechos.

Após três grandiosas horas de show, era 01h05 da manhã quando a banda se reuniu abraçada ao palco para se despedir de uma São Paulo extasiada ao som do finale "Cry Just a Little". Senhoras e senhores, eis narrado inteiramente nada menos do que o maior show do ano. Não importa se você não conhece muito bem Avantasia, não importa sequer se você não curte power. Se você é fã de metal, pouco importa o estilo que você prefere, deve passar por um show do Avantasia em sua vida. A todos que não tiveram a oportunidade de comparecer nesse grande espetáculo, sugiro veementemente que comecem a economizar suas moedinhas para o próximo, se houver. Ver o Avantasia ao vivo é uma experiência que te marca para o resto da vida.

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