Especial Angra pt.5: Fireworks e o fim da formação clássica

sábado, 27 de julho de 2013


Clique aqui para ler a primeira parte do Especial Angra (matéria sobre Fabio Lione).
Clique aqui para ler a segunda parte do Especial Angra (sobre o álbum "Angels Cry").
Clique aqui para ler a terceira parte do Especial Angra (sobre o álbum "Holy Land").
Clique aqui para ler a quarta parte do Especial Angra (sobre o álbum "Temple Of Shadows")
Clique aqui para conferir a entrevista exclusiva com Rafael Bittencourt para o ATM.
Clique aqui para todos os detalhes sobre o show que a banda realizará em Porto Alegre, evento da Abstratti Produtora e Urânio Produtora.

Na publicação anterior do Especial Angra no All That Metal nós tivemos um breve ensaio para uma futura coluna do blog, onde vamos dissecar todos os detalhes de álbuns conceituais. Hoje vamos retomar nossa séria de matérias com o terceiro disco de estúdio do grupo: "Fireworks".


Após o sucesso mundial da turnê de "Holy Land", chegou a hora do Angra retornar ao estúdio para gravar seu próximo trabalho. Mas ao invés da banda fazer o óbvio e dar continuidade ao trabalho que havia sido desenvolvido nos dois primeiros álbuns, eles acabaram lançando um álbum mais voltado para o Heavy Metal tradicional, deixando um pouco de lado os experimentalismos com música erudita e ritmos brasileiros. Pode-se afirmar que "Fireworks" foi o primeiro disco do Angra que realmente dividiu os fãs, pois muitos ficaram satisfeitos com a sonoridade mais direta e agressiva, enquanto outros ainda gostariam de ver o quinteto fazendo as misturas que popularizaram seu nome.
As mudanças já começaram desde a produção do álbum, que pela primeira vez não contou com Sascha Paeth e Charlie Bauerfiend. Dessa vez, quem ficou com a responsabilidade de conduzir o trabalho foi Chris Tsangarides, renomado produtor que já trabalhou com Judas Priest, Bruce Dickinson, Yngwie Malmsteen, Black Sabbath, Helloween, King Diamond e vários outros. As gravações foram feitas em Londres, nos estúdios Metropolis e Rainmaker, de abril a junho de 1998.
Uma vez que o orçamento para a gravação de "Fireworks" era um pouco maior do que nos álbuns anteriores, a banda teve a oportunidade de usar uma orquestra durante a gravação. Um total de 30 músicas participaram da gravação que foi feita nos estúdios Abbey Road. Quem relata a experiência é o próprio Andre Matos:
"Dá vontade de beijar o chão do estúdio, principalmente porque o chão é o mesmo, as paredes são as mesmas. Você entra e parece que está num velho teatro de escola. É uma sala imensa e alta. E é tudo velho, tudo estragado, com as paredes meio caindo aos pedaços e o chão faltando tacos, mas os caras não deixam consertar porque aquilo é histórico. Mas com tudo isso o estúdio soa bem pra cacete, é um dos melhores para se gravar orquestra, mesmo tendo sido construído em 1930. E a atmosfera é especial. Você nem consegue pensar. Na verdade, emociona ao extremo, principalmente na hora que estava rolando a gravação."


Musicalmente, "Fireworks" soa bem mais direto que os trabalhos usuais do Angra. Riffs mais influenciados por Heavy Metal puro, teclados e orquestrações mais discretas em algumas faixas e muito peso na cozinha. Apesar da divergência entre os fãs, muitos tem uma admiração especial por esse trabalho único dentro da discografia do grupo. Alguns exemplos de canções mais pesadas e diretas incluem "Metal Icarus" e "Mystery Machine", ótimos exemplos da exímia habilidade dos integrantes em compor Metal tradicional com muita técnica e criatividade. 
Pela primeira vez a banda estava abrindo um álbum de estúdio sem uma introdução, mandando ver em "Wings Of Reality" logo de cara. É uma faixa de grande destaque na história do Angra, com belas melodias e um peso orquestrado fenomenal, com momentos em que é quase impossível o ouvinte não sair bangueando de forma alucinada. 
O primeiro single foi "Lisbon", clássico absoluto do Angra, alternando entre momentos mais pesados e outros mais lentos embalados por orquestrações. A canção tem uma história bem inusitada: durante a turnê de "Holy Land" a banda fez uma passagem muito breve por Lisboa. Infelizmente, eles não tiveram muito tempo para fazer turismo pela capital de Portugal, mas decidiram dar uma volta pela cidade após a apresentação. Estava tudo deserto durante a madrugada e a banda encontrou uma mendiga na frente de uma catedral cantando uma certa música que ficou na cabeça de Andre Matos, que decidiu usar sua letra para escrever "Lisbon".


Ainda encontramos em "Fireworks" diversas canções de destaque que fazem o álbum ser um grande marco. Temos a épica "Paradise", com 7 minutos e meio, uma das músicas mais injustiçadas da carreira do Angra. "Petrified Eyes" tem riffs que lembram de imediato os trabalhos do Iron Maiden nos anos 80. A faixa título é uma bela balada escrita em uma parceria entre Andre Matos, Rafael Bittencourt, Kiko Loureiro e Ricardo Confessori. Em "Gentle Change" encontramos alguns ritmos brasileiros que remetem ao "Holy Land", um dos melhores momentos do disco. Encerrando o trabalho temos a rápida e técnica "Speed", que infelizmente ficou esquecida do repertório do Angra por muitos anos. 
O álbum foi lançado em setembro de 1998 e logo depois a banda embarcou em uma de suas turnês mais bem sucedidas. A banda apresentou-se no Monsters Of Rock da Argentina em dezembro de 1998, no estádio do Vélez Sársfield. O festival também contou com Slayer, Soulfly e Helloween. A atração principal da noite foi o Iron Maiden, que fez sua última apresentação com Blaze Bayley como frontman.


Em 1999, um fato curioso aconteceu na apresentação em Paris, no Le Zénith, em 16 de janeiro. Quando a banda retornou para o bis, começou a tocar "Run To The Hills", clássico do Maiden que foi usada várias vezes para encerrar apresentações do Angra. Mas o que ninguém esperava é que logo depois dos primeiros acordes quem subiria ao palco com o Angra era ninguém menos que o próprio Bruce Dickinson! Pois é, lá estava uma das maiores bandas nacionais dividindo o palco ao lado de um de seus maiores ídolos. Ainda tocaram "Flight Of Icarus", com direito a Rafael usando uma máscara de Eddie. Na época, Bruce havia acabado de cancelar uma turnê pela Europa  ao lado do Anthrax para divulgar o recém lançado "The Chemical Wedding", mas aceitou viajar a Paris exclusivamente para essa apresentação com o Angra. O fato aumentou ainda mais os boatos de que ele estava voltando para o Maiden, o que realmente foi confirmado poucas semanas depois.


Em 23 de outubro de 1999, o Angra encerrava a turnê de "Fireworks" com uma apresentação no Credicard Hall, em São Paulo. Esse seria o último show com a formação clássica da banda. Andre Matos, Hugo Mariutti e Ricardo Confessori não estavam de acordo com o empresário Antonio Pirani (também proprietário da Rock Brigade), que era dono do nome Angra, o que gerou a saída dos três para formarem o Shaman. Rafael e Kiko decidiram dar continuidade ao Angra. Mas isso já é assunto para a penúltima parte do nosso Especial Angra. Por enquanto, fiquem com declarações dos próprios músicos sobre a polêmica separação.

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