Cá estamos com mais uma edição da coluna Once Upon A Time, nosso espaço reservado para relembrar grandes bandas que já encerraram suas atividades. Hoje vamos falar de uma das grandes aventuras vividas por uma das maiores lendas da música pesada. Estamos falando de Rob Halford, vocalista do Judas Priest, que no começo dos anos 90 deixou a banda para arriscar-se em uma banda com sonoridade mais pesada e moderna para a época. O Metal God formou uma banda com o singelo nome de Fight, e é esse momento de sua carreira que vamos abordar hoje.
Em 1990, o Judas Priest estava atravessando o auge de sua carreira com "Painkiller", considerado até hoje como um dos maiores clássicos do Heavy Metal. Foi o álbum mais pesado da banda até aquele momento, marco na história do Priest e de todo o gênero musical. Mas Rob Halford estava atravessando um momento de muitas dúvidas quanto ao direcionamento de sua carreira. O vocalista havia sido conquistado pelo som de bandas que emergiram para revolucionar o Metal, bandas como Pantera e Cro-Mags, que estavam trazendo muita influência do Hardcore para o Heavy Metal, dando origem a uma nova maneira de fazer música pesada, algo com muito mais groove.
Após a turnê de "Painkiller", no ano de 1992, Halford anunciou o que ninguém esperava: estava deixando o Priest. No mesmo ano, o vocalista fez uma participação especial em uma música do Pantera, chamada "Light Comes Out Of Black", gravada para integrar a trilha sonora do filme "Buffy The Vampire Slayer". Ele também participou de vários shows do Pantera e estava tão decidido que aquele era o som que gostaria de fazer que decidiu formar uma banda para tocar algo na mesma linha.
Para a formação original do Fight, Halford chamou os guitarristas Russ Parrish e Brian Tilse. Para tocar baixo, foi recrutado seu amigo e tatuador Jay Jay Brown, que tocava em uma banda underground de Phoenix, Arizona, chamada Cyanide, junto de Brian Tilse. Além de já ter tatuado Halford, outros músicos que já passaram pela agulha de Jay Jay, como Phil Anselmo, Dimebag Darrell, Sebastian Bach, George Lynch e vários outros. Jay Jay também é o responsável pelo design das guitarras de Kerry King. Completando o time, Halford chamou seu ex-parceiro de Priest, o baterista Scott Travis, que tocou com o Fight enquanto o Priest ficou parado em busca de um novo vocalista.
O debut da banda foi lançado em outubro de 1993, chamado "War Of Words", um disco pesado, agressivo e marcante. O trabalho foi muito bem aceito por crítica e público, apesar de ter uma repercussão que não chegava nem perto do que Halford já havia alcançado com o Priest. "War Of Words" alcançou o 83º lugar no Top 200 da Billboard, além de ter um single muito tocado pelas rádios na época, com a canção "Little Crazy".
"War Of Words" é um marco na carreira de Halford e certamente um dos álbuns mais importantes da década de 90 no que se diz respeito a música pesada. Tanto que algumas dessas músicas, como as excelentes "Nailed To The Gun" e "Into The Pit", ainda estão presentes em apresentações de Halford em sua carreira solo. No geral, é um trabalho que nos apresenta uma mistura de Thrash, Groove e Heavy Tradicional. O já citado single de "Little Crazy" é mais acessível e possui um refrão inesquecível. Outras músicas que destacam-se são "Life In Black" e "Immortal Sin".
Logo após o lançamento do primeiro álbum, a banda saiu em uma turnê mundial para divulgar o trabalho e apresentar o Fight ao mundo. Inclusive, a turnê teve uma passagem pelo Brasil em 1994, com um show lendário no antigo Olympia, em São Paulo. Algumas apresentações foram registradas e incluídas numa compilação que a banda lançou ainda em 94, chamada "Mutations". O lançamento incluiu 5 remixes de canções presentes em "War Of Words" e 4 canções ao vivo, sendo uma delas um cover para "Freewheel Burning", clássico do Judas Priest.
Ao fim da turnê, o Fight retornou ao estúdio para gravar seu próximo lançamento. Obviamente, a pressão era grande, "War Of Words" foi um ótimo começo e a banda agora precisava superar o sucesso do primeiro álbum e provar a todos que veio para ficar. O Fight sofreu sua primeira baixa com a saída de Russ Parrish, substituido por Mark Chaussee. Hoje em dia, Russ toca na banda Steel Panther, que ficou mundialmente famosa por fazer uma sátira a cena Glam/Hard dos anos 80.
O segundo álbum foi batizado como "A Small Deadly Space", lançado em abril de 1995. A banda agora fazia parte de uma grande gravadora, a Sony Music, fazendo com que a pressão de uma boa aceitação comercial fosse ainda maior. Infelizmente, o segundo petardo do Fight era fraco demais para suprir todas as expectativas.
"A Small Deadly Space" não leva o ouvinte a lugar algum, soando como uma cópia fracassada de bandas como Pantera e White Zombie. Ele é bem mais pesado que "War Of Words", o que também não significa absolutamente nada. Todas as músicas soam iguais, ficando a impressão de que você escutou uma única música incrivelmente longa e chata. Alguns poucos momentos de destaque incluem canções como "I Am Alive" e "Beneath The Violence".
Em meados dos anos 90, a indústria musical já começava a encarar algumas mudanças que conduziram a sua posterior ruína nos anos 2000. Sendo assim, o fracasso comercial de um disco era um risco que nenhuma gravadora estava disposta a correr, ainda mais quando a gravadora em questão é uma das maiores do mundo, como a Sony Music. A consequência do trabalho mal recebido do Fight foi o constante desinteresse da gravadora, que deixou de investir na divulgação da banda. Descontente com a situação, Halford optou por encerrar a curta carreira ao lado dos músicos estadunidenses.
Nos anos seguintes, Halford afastou-se da vida pública e retornaria aos holofotes alguns anos depois com seu polêmico projeto de Industrial Metal, o 2wo. Mas isso já é assunto para um próximo post. O Fight ainda teve seus álbuns relançados em 2008, todos remasterizados por Roy Z (Bruce Dickinson, Judas Priest, Helloween) e vendidos em um box chamado "Into The Pit", contendo o vídeo de uma apresentação em Phoenix como bônus. Também foi lançado um DVD chamado "War Of Words - The Film", contendo um documentário e várias gravações inéditas da turnê do primeiro álbum. Um ótimo registro que retrata esse momento único da carreira do Metal God, que apesar de não ter obtido grande reconhecimento, deixou ao menos um álbum que marcou sua brilhante discografia.
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