Por Paulo Momento
Pra não dizerem que só entrevisto bandas de Pelotas, desta vez a entrevista será com uma banda de Florianópolis/SC. É verdade que comecei a colaborar com o All That Metal sempre buscando dar uma maior visibilidade para a cena da minha cidade, que já foi mais forte num passado não tão distante, e que hoje parece estar crescendo novamente. Não estou dizendo que não puxo a sardinha para o meu lado, até porque mesmo a Enarmonika não sendo de Pelotas, é formada por dois ex-pelotenses, amigos meus de longa data e também colegas de M26: o baterista Gabriel Porto e a vocalista Carla Domingues, que aqui também assume o baixo. Também não estou dizendo que só entrevistarei bandas que conheça pessoalmente, mas é verdade que ainda tem um monte de bandas que tive o prazer de conhecer, ir no ensaio, ver ao vivo, e que ainda pretendo trazer para este espaço. Por falar em ir no ensaio, desta vez, até pelo fato da banda não ser radicada em Pelotas, não pude comparecer em seu ensaio, e por isso não fiz o costumeiro vídeo.
Terminada
essa introdução maçante, falemos da banda. A Enarmonika tem
algumas particularidades bem interessantes, principalmente o fato de
usar violino e cello como instrumentos fixos em sua música. Já
que a noite é de confissões, admito que antes de ouvir o som,
temia que fizessem um som mais puxado para o Symphonic Metal ou
alguma mistura comum de Metal com música clássica. Mas
minha surpresa foi agradabilíssima ao ver que fazem um
som calcado no Avant-garde e até no Folk Metal,
flertando com o erudito e o Dark Cabaret, e que o som possui uma
homogeneidade incrível apesar da multiplicidade de influências e de
instrumentos.
Sem
mais delongas, deixemos o resto para a própria banda falar!
ALL THAT METAL: Como surgiu a idéia de montar uma banda de Metal com violino e cello? Fale um pouco sobre a história da Enarmonika.
Carla:
Bem, primeiramente te agradeço e ao All that Metal pelo espaço e
pela oportunidade de divulgação, Paulo Momento! Valeu mesmo! Então,
desde que mudei para Florianópolis eu tenho tido a oportunidade de
trabalhar bastante com a Orquestra Camerata Florianópolis, e um dos
concertos de mais sucesso que fiz com eles foi o Rock'n Camerata, um
concerto no qual a Orquestra interpreta clássicos do Rock como Led
Zeppelin, Rush, Rolling Stones, dentre outros, acompanhada de uma
banda de rock. Este espetáculo é apresentado desde 2008 e foi
através dele que comecei a ter mais contato com o Daniel Galvão,
que além de violoncelista da orquestra, divide os vocais comigo,
nestes concertos. Foi nos backstages e viagens do Rock'n Camerata que
eu e o Daniel começamos a conversar sobre a possibilidade de montar
uma banda. Em seguida a Iva, que também toca na Camerata, se
inteirou das nossas ideias, e também demonstrou interesse, e assim
marcamos a primeira reunião...
ATM: Quais as dificuldades para ensaiar e tocar ao vivo fazendo uso desses
instrumentos em sua música?
Carla Domingues:
o problema maior é equalizar tudo de forma igual... Com o violino da
Iva não tivemos problemas, porque o instrumento dela é elétrico.
Mas com o cello do Daniel está sendo um pouco mais complicado,
porque apesar de ele ter um captador que possibilita ligar o cello em
linha, ainda não conseguimos atingir um nível de timbre e volume a
contento. Outro problema vem sendo a questão do retorno, sobretudo
para o Daniel também, e é nisso que estamos nos focando agora, em
termos de aparelhagem.
ATM: Como definirias o estilo da banda? E quais as principais
influências musicais?
Carla:
nós temos fugido bastante de rótulos, até porque ainda estamos
experimentando muitas coisas e creio que esse rótulo vai acabar
vindo com o tempo. Contudo, somos bastante influenciados por bandas
do avant garde metal, como Diablo Swing Orchestra. Sobre influências
diretas, posso falar por mim, escuto muito DSO, Apocalyptica, Silent
Stream of Godless Elegy, The Gathering, Opeth, Anathema, e algumas
coisas mais extremas também, como Vader, Morbid Angel... Depende
muito do momento, mas acho que tudo o que escutamos no dia a dia
acaba influenciando de alguma forma na hora de compor.
ATM: A banda ainda não tem um material oficial gravado. Estão
trabalhando ou planejando trabalhar nisto? Quando teremos o
prazer de ouvir uma gravação oficial da Enarmonika?
Carla:
Sim, estamos trabalhando em composições próprias. Temos 3 músicas
prontas e pretendemos finalizar mais 1 ou 2 para então gravar um
possível EP, o que, acredito, deve acontecer até o fim do ano, mais
tardar nos primeiros meses de 2014.
ATM: As duas músicas de vocês que pude ouvir, são uma em inglês e
outra em alemão. Podemos esperar sempre essa multiplicidade de
idiomas em suas letras? Algum plano de compor letras em
português?
Carla:
Bem, no momento eu tenho sido a responsável pelas letras da
banda e a criação delas depende muito do que eu sinto a respeito da
música na qual estamos trabalhando. Essa é a minha maneira de
compôr. Muito raramente eu acabei escrevendo uma letra inteira antes
da música. Sobre a diversidade de idiomas, como eu tenho me dedicado
à ópera há alguns anos, tenho tido oportunidade de cantar em
diversas línguas, então quando comecei a compôr com a Enarmonika
eu pensei: por que limitar as letras a um só idioma? Hoje em dia
vivemos num mundo onde as bandas já não se preocupam somente em
comunicar sua música com o universal inglês, e eu compartilho esse
pensamento. Certamente teremos alguma música em português, mas não
sei quando...
ATM: Por falar em letras, quais os temas abordados nas letras de suas
composições?
Carla:
Geralmente escrevo sobre os conflitos e dilemas que afligem o ser
humano no mundo de hoje, no qual a individualidade é cada vez mais
oprimida, mas é também libertadora, em muitos casos. Somos
oprimidos pela mídia, pela religião, pela política, pelas raízes
familiares provincianas, mas ao mesmo tempo é justamente nesse ponto
que podemos encontrar uma face libertadora, tudo depende da maneira
como nos posicionamos frente a essas questões. É mais ou menos por
aí que busco comunicar meus pensamentos musicalmente.
ATM: A banda recentemente tocou no River Rock 2013, sendo esta a primeira
apresentação. Como foi esse show pra vocês? E a receptividade do
público?
Carla:
Foi incrível, mas ao mesmo tempo uma grande responsabilidade. Foi
nosso primeiro show, estávamos no cast de um festival ao lado de
bandas bastante renomadas, então tínhamos uma pressão, pois
queríamos que tudo ocorresse da melhor maneira possível. E achamos
que o saldo foi extremamente positivo, o público foi aumentando
consideravelmente durante nossa apresentação e depois recebemos
muitas mensagens e e-mails, de pessoas que prestigiaram o show. Foi
bem legal...
ATM: A vocalista Carla possui uma sólida carreira como cantora
lírica profissional. Ela e o baterista Gabriel também tocam na
M26. A banda é nova, mas ao que parece, todos os músicos já
são bastante experientes em seus respectivos instrumentos. Apresente
brevemente cada membro da Enarmonika e seus projetos e influências.
Carla:
Bem, eu me formei em Canto pela UFPel, em 2005, mas nessa época já
estava na M26 e também na Vetitum, da qual saí nesse mesmo ano.
Depois disso tive uma banda em Floripa, junto com o Gabriel e outro
pelotense, o Zozi Xavier, que se chamou Fake Twilight, com a qual
fizemos abertura para o show da Agua de Annique, banda da ex The
Gathering Anneke van Giersbergen, em SP. No meio erudito tive a
oportunidade de cantar no Uruguai, no Teatro Solis, e também no
Theatro Municipal do Rio de Janeiro, além de concertos em diversos
outros lugares do Brasil e uma breve passagem pela Itália. O
Gabriel, além da M26 e da Fake Twilight, também teve outra banda em
Florianópolis, a Misdeed, com a qual teve a oportunidade de abrir o
show do Marduk e Vader em Curitiba. A
Iva não veio do meio heavy metal, mas a meu ver se encaixou bastante
na proposta da banda. Ela é de Santa Maria, se graduou em música lá
e tocou em uma banda chamada Poços e Nuvens. Já em Florianópolis,
ela atua como violinista na Camerata Florianópolis, sendo solista e
spalla também. O
Daniel já teve mais experiências no meio rock/ metal. Fez
participações na banda Möngrel e ainda toca na Jugulator, mais
voltada ao stoner. Está terminando seu curso de música na UDESC e
também é violoncelista na Camerata Florianópolis. O
Eduardo Pimentel é com certeza o músico mais experiente da banda.
Há 20 anos na estrada com a Brasil Papaya, ele tem participado como
músico convidado em apresentações de diversos artistas nacionais.
Infelizmente, o Dudu está de saída da Enarmonika, por razões
pessoais, e estou noticiando isso em primeira mão aqui. Ele ainda
nos apoiará nesse momento de transição, até encontrarmos a pessoa
certa para a guitarra da Enarmonika.
ATM: Fale sobre a cena underground de Florianópolis e região. Cite
outras bandas daí que mereçam destaque, na sua opinião.
Carla:
Acredito que a cena underground em Santa Catarina, em geral, é
bastante ativa. Seguido acontecem shows em Joinville, Timbó, Laguna,
Blumenau, sem falar dos festivais open air, fora o River Rock, em
Indaial, e todo mês de dezembro tem acontecido o Zoombie Ritual, Rio
Negrinho, que esse ano tem como headline o Benediction, D.R.I, Tim
Ripper Owens, Kreator, além de diversas bandas de destaque nacional
e da América Latina! Aqui em Florianópolis acredito que a cena já
foi mais ativa, mas ainda acontecem shows, mas talvez não com a
frequência ideal, digamos assim. Existem ótimas bandas aqui algumas
mais consolidadas como Khrophus e Rhestus, e outras emergentes como
Antichrist Hooligans, Blakk Markett, Homicide, entre outras, e são
elas que tem feito tudo acontecer... Parece-me que existem muitas
bandas boas, mas falta um lugar mais central para que o público se
acostume novamente e volte a apoiar as bandas autorais locais em
detrimento de bandas cover, festas open bar ou reuniões de amigos.
Existem bandas, existe público, mas falta um elo maior entre eles.
ATM: Enfim,
agradeço pela entrevista e pela atenção dedicada ao All
That Metal. Deixe suas últimas palavras aos nossos amigos leitores!
Muito obrigado!
Carla:
Sem dúvidas sou eu quem agradece o espaço e a divulgação e
esperamos estar com nosso material oficial em mãos, em breve, para
poder levar nosso som ainda mais longe e quem sabe, tocar por aí!
Deixo o endereço do nosso site, www.enarmonika.com
e convido a todos a “curtirem” nossa página no facebook! É
isso! Grande abraço!
Que espetáculo ver esse casal aparecendo de novo. O maior sucesso ao Enarmonika. Paulo Momento, não são dois de Pelotas, tem Canguçu aí também...
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